sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O fenómeno Américo Gomes


Não há dúvidas de que ao meio de tantas turbulências que por vezes tiraram a esperança dos guineenses, a cultura tem desempenhado um papel preponderante no processo de superação dos constrangimentos sociopolíticos que estrangularam o processo do desenvolvimento do nosso país. Ao considerar o contexto geral da expressão cultural em suas diversas formas, em especial destaca-se a musica e seus profissionais como verdadeiros heróis de todo um processo que aos poucos vai contribuindo para estabilização da situação sociopolítica da nossa sociedade e, como sempre, devolvendo o orgulho da “guinendade” aos guinenses.
A importância e a persistência dos nossos músicos na consolidação da identidade nacional pode ser testemunhado desde o processo da descolonização, onde assumiram o papel instrumental da mobilização e esclarecimento de diferentes sensibilidades do país sobre a sua condição perante as forças imperialistas opressoras, mostrando a necessidade de acção para resgate dos valores soberanos da nação. Neste processo, são nomes de vários músicos que teríamos que aqui citar como verdadeiros heróis nacionais e combatentes da liberdade da nossa querida pátria, o que não é o caso deste trabalho. Há que admitir que, num país onde tudo esteve parada, nada funcionou (política, economia), a música tem se mantido persistente, tornando-se o espaço de refúgio das nossas angústias, referencia de orgulho nacional durante todo este tempo graças a competência e cidadania dos nossos músicos. No entanto, este ensaio, muito longe da visão de um musicólogo, apenas tange a importância que o musico Américo Gomes tem para música moderna guineense. Em sua essência, mais que um artista guineense, Américo Gomes é a expressão do talento e criatividade da música moderna dos PALOPs, como tal, consegue transitar às fronteiras geográficas e culturais sempre engrandecendo “bandeira nacional”. Não vai aqui nenhum juízo de valor: pode-se gostar ou não desta expressão que ele representa,  muito injusto seria não admitir que ele é a expressão da  capacidade criativa, talento e inovação que reside no espírito do jovem guineense.
Ao ouvir algumas músicas do seu novo trabalho, os mais radicais críticos nacionalistas da música guineenses não hesitariam em apontar a sua fusão com os ritmos internacionais mais “pops” com aquilo que é ritmo genuinamente guineense. Mas também não é difícil argumentar o contrário: o que seria genuinamente guineense se até aquilo que julgamos ser originária da guiné não dispensa ritmos trazidos de outras fusões musicais. O facto é que, não dispensado de qualquer crítica e elogio, entre as duas coisas, encontra-se o limite exacto que baliza todo o “saber fazer” do homem moderno e é exactamente o que Américo Gomes está constantemente afirmando nos seus trabalhos. Para quem acompanha o percurso deste guineense na música, pode testemunhar a sua constância neste meio. O que em outras palavras traduz-se em carisma e a popularidade que ele tem conquistado. Américo Gomes é o musico do qual  os fãs esperam sempre o melhor e ele tem cumprido este pacto com aqueles que o admiram. De um álbum seguido de outro, vê se o progresso constante, prova a competência em fazer aquilo que se propõe fazer, assume o papel da cidadania com temas apelando unidade nacional, valorização daquilo que é nosso. Américo Gomes, em todas os seus trabalhos faz questão de afirmar sua identidade, primeiro, guineense como uma identidade politica agregada e a partir da qual, mostra que também é Manjaco filho de Canchungo expressando assim a essência de uma identidade híbrida que faz dele o fruto de um conjunto de valores e riquezas culturais, tornando-se num fenómeno que ele representa para cultura moderna guineense. Por outro lado, eis aqui a peculiaridade daquilo que é um profissional consciente da sua identidade e com o qual se justifica o talento, criatividade em forma da pessoa, cidadão, Américo Gomes.     
É este o espaço que ocupa no imaginário dos seus fãs: o espaço do mito. Ele não foi o primeiro grande ídolo da música do nosso país- para isto teríamos que apontar os grandes “elefantes” lendários da nossa música e não nos pouparia espaço neste texto- mas há que reconhecer, pelo menos, a seu tempo, foi aquele que conseguiu manter a constância da fama num ambiente dominado pela cultura da tecnologia, que surgiu com o fortalecimento das redes sociais, especialmente o segmentado para jovens. É pertinente, portanto, afirmar que o fenómeno Américo Gomes é o que há de mais tradicional e ao mesmo tempo, moderno na música guineense.
Eu como guineense, não poderia deixar de dar o meu contributo, desta maneira, dar os parabéns ao Américo Gomes, pelo trabalho e o seu contributo para nossa cultura e como jovem, sinto orgulho de ser representado por ele. Fica aqui a minha força e votos de sucesso em tudo que ele faz.  




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entre orgulho de ser guineense e sentir-se patriota.


Ao fim de muitos anos de turbulência, tudo parece normalizar-se  em ti. Angustiado quem te viu ontem, feliz é quem te vê hoje ou, pelo menos, hoje. Tudo em ti assemelhava um imenso purgatório no qual os teus filhos sobrevivem expiando pecados que não são seus. Gotinha a gotinha, aquilo que se vê hoje é o orgulho dos teus filhos a ser devolvido. Como é bom te ver a crescer? Como é bom te ver a "esquecer" o "velho passado"? Como é bom te ver mirar a prosperidade de que tanto anseia os teus filhos?
Apesar de ser uma viagem longa e algo cansativo, o progresso é um destino que não desilude.  Mesmo sem ostentar  grandes saltos, em termos de infrastruturas do "primeiro mundo" como desejam os mais ambiciosos dentre os teus filhos, a verade é que, o que se julga pouco aos olhos daqueles que já viram "muito", não deixa de ser "muito" para aqueles que "muito" não viram, ou melhor, para  onde nunca houve "muito".
A consciência de que ainda há problemas, e muitos, ignora-los seria pretensioso a cúmulo, no entanto, arrogantes seremos a não admitir as gotas do progresso na Guiné. Reconhecer isto está além do patriotismo que  muitas pessoas julgam faltar aos guineenses, mas sim, é a obrigação que temos de ser realistas.
O que se vê nos discursos de vários guineenses neste momento, é uma tendência de incutir um certo tipo de "obrigação moral" na qual  todos devem  se assumirem como patriotas, como se fosse a falta disto justifica  o fracasso que o nosso país já foi. O que na minha opinião, não deixa de ser  uma superficialidade ingénua em apontar os motivos que conduziram  a Guiné à situação em  que se encontra. Mesmo que fosse esta a causa principal, recai a questão do que se entende por patriotismo. Neste caso, nos vemos confrontado com  equívocos em significar e  interpretar o patriotismo como conceito, baseando-lhe na concepção daquilo que se entende por patriotismo remoto dos séculos passados, fundamentado no radicalismo ideológico que afundou as sociedades no abismo das ditaduras mais severas da historia da humanidade. Eis o que assemelha a isto, propaganda gratuita e abstractas sem teor prático, desmunida de qualquer acção concreta materializada em termos da exibição d símbolos nacionais no facebook, ostentação da bandeira nacional, exibição das imagens dos heróis nacionais como prova daquilo que se acredita ser patriotismo, ridicularizando qualquer senso crítico ao país e seus governantes. Enquanto que, o espírito da cidadania, o  abdicar-se em prol da nação, o fazer pelo bem de todos ,o  trabalho, a verdade sem condicionantes morais ou ideológicas, a visão crítica da realidade,  os factores essenciais para progresso duma sociedade , muitas vezes, caem no esquecimento e passa-se valorizar as memórias abstractas que em nada contribuem para materialização do bem estar.  Alguns mais radicais e fundamentalistas sem fundamentos, acusam de traição  á pátria, de difamadores do nosso país, todos aqueles que fazem leitura crítica da nossa realidade. Vê se assim, a promoção da aspiração reaccionária no seio da nossa sociedade.
Sonhar é bom, mas é imprescindível a consciência de que,  nenhuma nação se construiu com as frases típicas "Minha Pátria Amada; Querida Pátria; Nossa Bandeira é Linda; Eu Amo o Meu País; Pai da Nossa independência;..." sem pretensão de desmerecer algum sentimento nacionalista que se expresse de alguma ou da outra forma, vale salientar que, muito além das frases abstractas e vãs, a nossa sociedade precisa e exige de nós o trabalho em todos aspectos práticos que se entende. 
Na verdade, é disso que nos propomos a ilustrar aqui, o fruto do que realmente podemos significar como espírito da cidadania, patriotismo, nada além da ambição de sentir orgulho daquilo que somos e o que temos, a vontade de superar as nossas dificuldades, interesse em apresentarmos melhor perante  nossos parceiros, a certeza de sentimos parte e fazer parte dos bons. Este é o verdadeiro espírito da cidadania, este é o início da edificação duma sociedade digna, alicerce para institucionalização do direito que assiste a todos, em fim, sentir-se parte de um Estado de direitos onde possamos investir as nossas capacidades para contribuir para o progresso. Isto não se faz com conformismo difusa, orgulho dissimulado, tendência de dizer que tudo está bem mesmo quando não está, pretensão de achar que tudo é lindo só porque trata-se da Guiné-Bissau mesmo quando é dos piores que existe ao redor do mundo. Patriotismo é ter ambição para progredir, ver criticamente aquilo que temos, identificar as nossas fraquezas, tentar superá-las, aproveitar as oportunidades que nos aparecem. Um povo reaccionário, conformista ajuda afundar o seu país, não deixa espaço para inovação, muito menos criatividade, os factores sem os quais não há progresso.  













Não há dúvidas de que o actual governo, apesar de varias pendências em termos estruturais, tem evidenciado esforços mesmo que ainda  à conta gotas (naturalmente num país como o nosso) para superar os entraves elementares para progresso da nossa sociedade. Ainda é pouco, mas muito, para um país como a Guiné, basta olhar pelas novas infraestruturas rodoviarias, sinalização do transito, pagamento em dia dos funcionários públicos, iluminação pública a melhorar aos poucos. Ou seja (com todos cuidado da minha parte, como quem  conhece, e  bem, a realidade do meu país) vejo, afirmo e as imagens expressam-na melhor que as palavras, está evidente os sinais do progresso, até porque se, muito se começa com pouco, então, não deixaremos de parabénizar todos os guineenses que têm contribuído para que tudo isto torne a realidade, especialmente aos funcionários públicos. 
Estas imagens foram recolhidas do facebook, tomei a liberdade de publicá-las, pelo que deixo aqui as minha mais valiosas considerações aos respectivos autores: http://www.facebook.com/profile.php?id=664191579http://www.facebook.com/nivandrohttp://www.facebook.com/profile.php?id=1162847577http://www.facebook.com/profile.php?id=100000703647032

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O meu primeiro contacto com uma sociedade de direitos e civilidade.

Tudo o que eu vi até então sobre direitos e civilidade não passava de mera teoria enfeitada de moralidade que há muito constitui a base de discursos institucionais que fundamentam as mais remotas "boas intenções" abstractas da sociedade humana. Na prática, logo se revela as discrepâncias daquilo que nos ensina nos livros de "bons costumes políticos" e o que caracteriza a nossa condição como habitantes das sociedades. A minha noção sobre conceitos de bom governo, Democracia, Estado de Direito, Liberdade, Igualdade, são mera reprodução de significados conceptuais vagos os quais nunca tinha constatado na prática. No entanto, eis aqui uma experiência que eu não posso deixar de compartilhar, dada a importância e a curiosidade que isto tem me despertado.
Durante a minha visita à Copenhage (Capital da Dinamarca), confesso que, eu, cidadão do terceiro mundo que viveu e vive a alguns anos em diferentes países de Europa, América, nunca tinha sido impressionado suficientemente pelo grau da eficiência da governabilidade de um país como a Dinamarca. Lá, eu constatei a presença do Estado em todos aspectos da vida do cidadão duma forma tão eficaz sem ser autoritário. Vi coisas que me fazia questionar a tempo todo, como é possível chegar aquele nível da eficiência política capaz de optimizar todas as estruturas da sociedade sem deixar de ser equitativo. Estou a referir-me aos conceitos muito difícil de conciliar em termos práticos. Alguns países atingiram eficiência politica sem optimizar as estruturas sociais, deparam com as desigualdades sócio-económicas, as questões de equidade distributiva e tributária, direitos e dos benefícios oriundos das politicas públicas. Esta não é a realidade do país que eu me propus a falar aqui. Trata-se neste texto de um país que me levou a constatar aplicação da democracia e o Estado de direito começando pelas casas dos cidadãos até à praça publica no sentido metafórico do termo. Sem precisar de levar anos para estudar o sistema politico da Dinamarca, a minha experiência nas ruas responderam-me as questões que vinham-me à cabeça, em cada autocarro que eu apanhava, cada viagem de metro, cada praça pública que eu usava para desfrutar a minha curiosidade de conhecer um país estranho, deparo-me com cidadãos que a cada gesto, pareciam-me dizer "o nosso país está como está porque nós somos isto que estás a ver". A partir dai, eu passei a não dar muito enfoque nas paisagens física da cidade, a pessoa humana passou atrair-me mais que qualquer outra coisa que eu possa julgar mais linda do mundo. Estas sim, mostravam ser a tempo todo cidadãos, não mera habitantes duma cidade. Isto levou-me lembrar da teoria uma lição básica da teoria clássica da sociedade civil; " para que haja uma sociedade forte, precisa-se de formar cidadãos", preparar pessoas para exercerem cidadania, pessoas com um saber imprescindível para viver numa sociedade cívica e democrática, este saber é nada mais que a "consciência da cidadania" . Não tenho dúvida de que um dinamarquês não é o modelo do homem mais "civilizado" do mundo e tão pouco a minha pretensão é mostra-lo aqui como um homem americano referenciado no "Democracia na América". Salvo generalizações, faço as minhas considerações na média daquilo que vi e pude interpretar graças as ferramentas de reflexão que a minha experiência facultou-me.Fiquei impressionado com o modo de vida das pessoas que a tempo todo fazem questão de ser cívicos, preocupados em não esbarrar nos direito do próximo, pessoas que sentem vergonha de infringir as regras e não o fazem porque julgam isto ser moral ou não, mas sim porque ao cumprir as regras facilita a convivência com outras pessoas. O comportamentos de um sujeito é algo mais valorizado naquela sociedade, uma sociedade extremamente auto arbitraria com qualquer gesto que possa por em causa as relações sociais dos cidadãos e das instituições públicas. Este nível da eficiência cívica levou-me à outra questão; para que serve Estado à esta sociedade que se auto governa? não seria este o estágio óptimo da sociedade na concepção marxista da evolução política outrora tida como alternativa para sociedade humana? Pois, eu tive que conter-me porque comecei a relacionar coisas que talvez não levavam-me à nenhuma resposta. O Estado é necessário, talvez porque o ser humano não consegue viver sem uma autoridade, por mais limitada que esta seja, faz-se necessária para evitar anomalia social pensado como estado patológico da vida social na concepção conservadora da teoria social e muito bem fundamentado na concepção absolutista do Estado pelos teóricos de "estado de natureza" "homem lobo de homem". Não obstante, eu pude deparar com um modelo de Estado moderno, um Estado baseado em outrs horizontes, enraizado numa engenharia politica calculista peculiar, onde a principal preocupação é a racionalização dos custos. Com custos, quero referir-me aos custos sociais, as consequências de qualquer erro politico para sociedade, custos que que subtraem Bem Estar dos cidadãos. Neste modelo de Estado, nos vemos confrontado com a racionalização da política como ferramenta de minimizar os custos em todos aspectos que reflectem no Bem Estar da sociedade, a começar por minimizar os custos de governação ou custo marginal de aplicação coerciva da infraestrutura burocrática à vida pública (sustentabilidade da máquina burocrática do Estado), custos da procura pelo Estado (tornar o Estado mais próximo do cidadão quando este precisa), em outras palavras, garantias dos serviços público necessárias (Educação, Saúde, Segurança...) de forma a evitar maiores gastos posteriores com correcção das consequências. Com isto, atinge-se o ponto óptimo da eficiência governativa entre o Estado e a sociedade civil como diria o Pareto. Posta de outra forma, uma estratégia politica que não leva em conta os custos, corrói toda estrutura de governabilidade conduzindo à "falha do Estado" que consequentemente geram "externalidades" negativas nocivas para o Bem Estar social. Quando Estado falha, a sociedade arca com os elevados que traduzem em problemas sociais relacionados ás questões de analfabetismo, problemas com saúde pública, segurança, problemas estruturaissocioeconómicos.
Tudo isto pode parecer muito teórico até ver como funciona na realidade, voltando ao nosso assunto, caso Dinamarca. O grau da consciência dos dinamarqueses permitiu construir uma sociedade que, por excelência, permitiu atingir um grau de eficiência governativa peculiar com base nos ideais democráticos consolidados na vida prática dos seus cidadãos. Começamos por coisas básicas: num país, onde o sistema de transporte público parece livre, não precisa de gastar milhões de dólares no sistema de fiscalização de transportes pois, ninguém usa transporte publico sem pagar por ele, isto seria uma vergonha na consciência dos cidadãos, as empresas de transporte público não vão à falência, não geram dívidas para depois afectar toda estrutura económica do país, pagam impostos sem burlar o fisco incentivam novos investimentos na modernização das frotas, vias ferroviárias e rodoviária ( Menos custo na fiscalização, melhor fornecimento do serviço para cidadão, garante do bem estar da sociedade). O património público é algo do mais sagrado que existe e tem que ser encarado por todos desta forma. A contrário do que estados acostumado a assistir nos outros países, onde tudo que é público é roubado, burlado, vandalizado e posta à festa pelos cidadãos.
Na Dinamarca, a alta consciência do cidadão isenta o Estado dos gastos nas campanhas de sensibilização, implacável consciência ambiental dos cidadãos evita doenças geradas por consequências ambientais (menos gasto com saúde pública) , pratica de colecta e reciclagem de resíduos, facilitando colecta e tratamento do lixo, casas ecologicamente sustentável, permite poupar energia, fornecer serviços duma forma sustentável sem desperdício, diminuição drástica de certos desperdícios que ao cofre do Estado e para economia custam muito. Todo este sistema de cuidados e redução de custos geram excedentes ao cidadão e contribui para Bem- Estar da sociedade no seu todo, aumentando a credibilidade do país a nível internacional para investimentos.
Em fim, não conto expor toda minha experiência neste pequeno texto, para isto precisava de escrever um livro. No entanto, a minha intenção foi de mostrar o quanto fiquei sensibilizado com a realidade dinamarquesa e como isto serviu-me de lição para vida toda, as dúvidas que isto tem me esclarecido. Confesso que sou um fanático pela arte de governar, em cada passo da minha convivência questiono-me, sinto-me impressionado com as formas modernas de fazer politica, não consigo conter a minha emoção ao deparar me com coisas que mudam vida das pessoas para melhor, a minha maior curiosidade é de saber como construir uma sociedade que garanta o mínimo possível para todos os seus cidadãos sem entrar num estado de conflito entre as diferentes camadas sociais. Cada livro, cada artigo que eu leio, não paro de fazer este exercício de reflexão comigo; "wáu, como as pessoas conseguem?", será que precisamos ser muito ricos em petróleo, diamante, ouro para melhorar vida das pessoas? A Dinamarca mostrou-me que não. Acredito que tudo isto passa por trabalho de formar cidadãos conscientes para colaborar com o Estado em todos aspectos. Para isto, é preciso darmos atenção à educação, precisamos educar o nosso povo, só assim seremos capazes promover mudança social. Cidadão consciente é aquele que, a cima de tudo, tem a consciência de que, cada voto que foi desperdiçado, cada resíduo que foi depositado na terra, cada regra que burlamos (no transito, nas instituições publicas, no transporte público...) cada dano que causamos ao património público, nossas escolas, hospitais...envolvem elevados custos sociais, as quais levamos anos para reparar. Podemos com o nosso pequeno gesto deteriorar a vida de muitas pessoas com um comportamento que, muitas vezes, nem damos muito valor.
Finalmente, aprendi que esta experiência ajudou-me compreender melhor que nenhum país é eficiente se não existir cidadãos conscientes, muitos países têm habitantes e pessoas desorientadas que passam grande parte de suas vidas a cobrar da sociedade e nada fazem por ela. Pude perceber que a sociedade civil constituída por cidadãos portadores da consciência politica como subsidio para sua própria autocrítica e promoção da sua mudança é a base de tudo, se não existir uma sociedade civil preparada não existirá um bom Estado. Eu, cidadão do terceiro mundo, nascido num país pobre, toda esta experiência faz-me pensar numa única coisas; o "modo de pensar". Somos diferentes justamente porque pensamos diferentes e isto vai moldar os nossos valores, a nossa acção em todos aspectos e todas as relações sociais que mantemos dentro das nossas sociedades.
Isto relacionado com o nosso país especificamente, talvez é inoportuno qualquer tipo de comparação neste caso, mas de uma coisa estou certa, a mentalidade do nosso povo e o grau da instrução do mesmo contribui para o estado em que se encontra. Vivemos numa sociedade em que centramos tudo no Estado, empobrecemos a nossa potencialidade de acção como cidadãos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A face oculta da revolução facebook


A luta da era das tecnologias avançadas foca-se numa busca incessante da liberdade em todas as suas vertentes possíveis de alcançar. O surgir das novas tecnologias trouxe consigo alguns benefícios para a sociedade humana, o mais virtuoso de todos é a mobilidade virtual do sujeito tecnológico permitindo lhe acessibilidade à informação de uma forma mais democrática e menos custosa em qualquer ponto do planeta em que se encontra. Graças a tecnologia o homem actual se move em questões de segundos. As chamadas redes sociais virtuais traduzem exemplo deste benefício e cujo resultado real é a sua transformação numa ferramenta de luta politica mais prática e pacifica em pleno séc. XXI.
 Os protestos nos países árabes evidenciam concretamente esta convicção e é aquilo que a muito tempo se previa nas previsões das mais atentas análises da realidade do mundo árabe. O que escapou dessas previsões é a forma como isto poderia acontecer e em qual conjuntura politica poderia transformar-se. O facto que ainda continua sendo uma incógnita na opinião publica mundial.
Mas a verdade é que, os países árabes, na sua maioria, mergulhados numa realidade de instabilidade politica, muitas vezes influenciada pelos interesses alheias ao povo dessas regiões e consequentemente manifesta-se num cenário de desigualdade social, pobreza, a divisão hostil das seitas religiosas. A revolução é a face daquilo que constitui o pensar do homem árabe durante muitos anos que só agora surgiu oportunidade de expressá-la de uma forma política “aceitável”.
É de salientar que, a convicção de que o muçulmano “jamais terá paz, estabilidade, força para defender-se da guerra que o ocidente desencadeia contra o mundo islâmico se este não se submeter incondicionalmente ao verdadeiro e a mais pura doutrina de Allah”. O que significa dizer que enquanto o homem árabe se distancia da ”mais pura lei do alcorão (considerada a guia da vida do homem na terra em todos aspectos), mais frágil estará perante as forças inimigas, a sua cultura, a sua religião e a sua própria dignidade ver-se-á posta em causa e sistematicamente humilhada”. Baseando-se deste modo nos princípios que fundamenta a doutrina islâmica “solidariedade do povo do Mohamad (espírito de umma) justiça social, a defesa da palavra de Allah e a tradição do profeta Mohamad  (Sunna)”.
A luz desta consciência, surge um novo sujeito muçulmano interessado em resgatar aquilo que considera ter perdido. A nova geração muçulmana expressa novos anseios assentados na busca da verdadeira face do Islão não restrita à prática de cultos e como um factor de identidade. Muito além dessas formas tradicionais de ser muçulmano, Islão que se pretende  é aquela que vai fazer parte da vida do muçulmano em todos aspectos da sua vida como um ser social. Isto vai de criar regimes políticos orientados em função do modelo político expresso no alcorão, configurar as relações económicas e os interesses, até na mais elementar organização de modo de vida do individuo e Estado.
O desejo por liberdade, justiça e democracia não passam de emblemas universais “aceitas” e que mobilizam a opinião pública internacional para apoiar qualquer iniciativa política no mundo. Incorporar esses valores ao objectivo da revolução, não passa de uma acção politicamente estratégica para alcançar-se o verdadeiro objectivo dos povos árabes focado a defesa da identidade muçulmana e a proteção do património regional.
Durante muitos anos de regimes ditatoriais no mundo árabe, não se fez nada mais que criar uma elite supra rica e um mar de “desgraçados” mergulhados numa situação de pobreza alarmante, praticamente uma calamidade socioeconómica marcada por ondas de violência e instabilidade política sem fim, guerras, desemprego, vítimas de ataques culturais e submissão do povo à uma realidade de opressão constante tanto pelas forças internas, assim como pelas forças externas. Por outro lado, o que se vê é a ostentação de riqueza por parte das elites, propagação de uma cultura de consumismo escandaloso de bens materiais milionários, carros de luxo, produtos ornamentados de ouro e diamante, bens que muitas vezes não se usam nos países de origem. Tudo isto, traduz-se como “uma agressão aos preceitos Allah e contra o modelo político que o Mohamad pregou”. Associação destas duas éticas, expressa os valores assentados na “solidariedade, justiça, não ostentação da riqueza do povo”.
Colocar islão no centro de tudo que move acção do sujeito muçulmano é o principal símbolo da revolução visto que, até então não se conseguiu isto devido grande obstáculo que os líderes políticos do mundo árabe colocavam e por isto, não são considerados pelo povo como “verdadeiros muçulmanos”, são meros “seguidores das ilusões mundanas”. Por outras palavras, vale dizer que o objetivo da revolução passa por criar uma nova ordem sociopolítica com estratégias diferente daquilo que regia a realidade do mundo árabe. Vale dezer o  mesmo que redefinir as relações entre oriente médio e ocidente, reinventar novas relações dentro da liga árabe que tenderá ser cada vez mais forte em vez das divergências de interesses entre os países que a constitui. Este é o verdadeiro anseio do homem árabe, sobretudo a nova geração representada na sua maioria pelos jovens universitários dispostos a criar uma nova realidade sociopolítica nos seus países. 
Com isto, não estou afirmar que vão surgir novos regimes teocráticos na região, diferente disto, emerge uma nova ordem sociopolítica estratégica que tende alterar a conjuntura das relações entre países árabes e outros países - não necessariamente “radical” como muitos preferem - configurando-se numa realidade mais solidária e focada na defesa da identidade muçulmana e de todo património económico e cultural do mundo árabe. No lugar dos conflitos de “interesses mundanos”, emerge uma luta pelos interesses da identidade religiosa reforçada pelo fortalecimento do espírito da “unidade contra inimigo”. Obviamente isto significa um golpe aos interesses ocidentais, sobretudo aos interesses dos Estados Unidos que vê o “radicalismo islâmico” como ameaça aos valores do ocidente.
Seria ingénuo da minha parte afirmar que haverá uma realidade política cujas relações com ocidente vão ser rompidas,  considerando a interdependência estrutural de interesses destes países com o ocidente. Mas a iminência de uma relação estratégica mais atenta aos interesses do povo árabe e que não constitua ameaça à identidade muçulmana está evidente.
Muito distante daquilo que se prevê no senso comum, estados democráticos regidos pela liberdade, justiça e respeito pelos direitos humanos, vejo novas formas de fazer politica capaz de mudar a ordem da diplomacia entre os países, vejo sobretudo homens e mulheres – envolvidos numa realidade de guerras entre civilizações, exploração, alienação dos interesses e afirmação da identidade - determinados a unir-se em prol da defesa da sua identidade de uma forma mais estratégica como nunca tinham tido esta oportunidade. Não restam dúvidas de que a revolução não para por aqui, haverá mais países envolvidos, em alguns pode custar vida de milhares de civis, como está sendo na Líbia.
O desejo por desenvolvimento dos países árabes, construção dos estados democráticos, a liberdade do povo é parte daquilo que constitui escopo da revolução, mas além, está o que não se expressou ou ainda é cedo para expressar e é o que constitui o que estamos a chamar da face oculta da revolução. Isto passa pela construção dos Estados consolidados em termos ideológicos em prol de uma sociedade justa onde a distribuição da riqueza é vista como inadiável, permitindo a aplicação mais justa de petro-dolares, sobretudo na educação, saúde e segurança publica para defender a soberania nacional e fortalecimento da identidade muçulmana.