sábado, 28 de abril de 2012

A Guerra entre a Lusofonia e a Francofonia




Entre a condenação e a negociação do golpe-de Estado, está uma guerra geopolítica cujo o palco é a Guiné-Bissau. Os historiadores afirmam que desde o inicio dos tempos que a grande ambição da humanidade é descobrir o mundo e nele, demarcar como sua pertença: espaços geográficos conquistados. Nos tempos mais remotos as cores serviram de instrumento da identificação, o sujeito das cavernas via em cada pigmento um significado e  uma simbologia de diálogo e afinidades entre ele e o outro. As cores representavam instrumento de identidade entre povos e, por outro lado, constituíam marcas de tensões sociais entre diferentes grupos. As tribos serviam-se das cores que mascaravam os rostos para se reconhecerem num campo de batalha. Desde muito cedo, as simboligias  da identidade baseadas em cores que em rituais próprios fazem demarcação das fronteiras entre povos e espaços territoriais. No entanto, a invenção das línguas  marcaram o surgimento de um istrumento identitário mais sufisticado na historia da humanidade, a partir do qual se expressa a mais intima ligação entre sujeito e o outro dentro do espaço geográfico  que ocupa. Estes instrumentos da demarcação das identidades e fronteiras culturais persistem ainda hoje, nos dias que correm, as estrategias do projecto geopolítico moderno, não são nada mais que as  estratégias ancestrais da demarcação de limites de espaços geopolitico baseados nas simbologias mais sufisticados, onde as cores de outrora continuam estampadas nas bandeiras nacionais, uniformes de guerra,  as mascaras deram lugar aos logótipos institucionais.  É o caso de afirmar que, atrás de cada projecto geopolitico, existem muitas outras mascaras ancestrais  pintadas em tons de terror e medo, camufladas de  " boas intenções políticas " que distroem em terra  lugares e pessoas inocentes.
O último golpe-de-Estado na Guiné-Bissau, reavivou o conflito geopolitico  que  há muito existiu entre a  fancofonia e a lusofonia em África. A Guiné-Bissau, em várias ocasiões, foi o  palco da expressão de interesses geoestratégico entre o mais antigo jogo diplomático de Portugal e França em África, a  CPLP e CEDEAO são projectos geopoliticos modernos que representam este interesse.  

A integração da Guine-Bissau na comunidade dos Estados da África ocidental - onde a maioria dos países são da expressão francesa-  e a sua aderência à moeda francófona, nunca foi visto com bons olhos pelo Portugal e demais países do CPLP. Este facto, deu a origem à desavenças entre o regime "ninista"  e o Portugal. Durante o seu regime, Nino mostrou claramente a sua afinidade com a França e países francófonos onde tinha os  mais leais dos seus aliados politico  e  o seu  distanciamento de Portugal ficou evidente ao longo do seu mandato,  o que posteriormente veio lhe custar o poder e a credibilidade a nível internacional através da forte campanha desencadeada pelo Portugal contra seu regime.
 O conflito diplomático entre Portugal e o regime "ninista" viera assumir  contornos mais nítidas em conflito armado do ano  1998 na Guiné- Bissau, onde o  Portugal, foi um dos países que visivelmente apoiaram os golpistas da "junta militar", dando lhes  todo apoio diplomático  e posteriormente legitimou o golpe-de-Estado  que consequentemente levou a queda do regime do Nino Vieira.  Findo o conflito de 11 meses que custou vida de muitos inocentes, o então líder golpistas da junta militar, Ansumane Mané,  foi recebido em Portugal com a mais alta cerimonia de  honrarias do Estado com tapete vermelho, honras reservadas às personalidade de distinção pelo Estado português. França por sua vez, mandou militares para combaterem em Bissau  a favor do Nino, somando-se  aos militares de Senegal e da Guinee- Conakry, ambos colonizados pela frança.

A guerra diplomático entre o mundo lusofono e francófono estava no seu auge, não havia margens de dúvida sobre o jogo de interesses geopolitico expresso na sua forma mais clara num país dividido entre espaço territorial e a cultura linguística a ele imposta. 
Ao conseguir vencer nominalmente a guerra, à medida que conseguiu fazer triunfar os golpestas e exilado o Nino Vieira, no entanto, Portugal não conseguiu travar o processo natural da integração da Guiné-Bissau ao mundo  francófono. Sendo um país rodeado geograficamente pelos países da expressão francesa, pode se considerar que é um pais territorialmente francófono e, só um pouco, pela influencia da lingua, culturalmente lusofono e é inquestionável a influência do mundo francófono  sobre a Guiné-Bissau. 
Trata-se  do embate político antigo no qual o Portugal, foi sempre vencido e o golpe de 12 de Abril, veio confirmar esta derrota mais uma vez. Surge Angola como  um emergente africano que, pelo peso de petrodolares, entrou na corrida geopolítica africana, mas sem experiência e bases diplomáticas solidas para tal.
A presença angolana em África ocidental, aos olhos d CEDEAO, constitui uma ameaça geopolítica na região da pertença francófona, nem a CEDEAO, nem a França  dão boas vindas a qualquer manobra geoestratégica de algum Estado que não seja fancófono. Acresce se  a isso  as divirgencias políticas existente entre os líderes africanos, especificamente entre Alassana Ouattara e Jose Eduardo dos Santos, este último que foi grande aliado do Laurent Gbagbo. Considerando os factos e a lógica da diplomacia baseada nas  afinidades politicas entre um ou outro lider, não constitui nenhuma ingenuidade admitir a possibilidade de  alguma ligação entre CEDEAO e o golpe-de-Estado na Guiné-Bissau.  A presença do MISSANG não é mal visto  só pelos militares guineenses, a CEDEAO e os países que a integram viram neste acordo  um passo geoestratégica que vai contra seus interesses geopolitico. 
Foi  evidente o descompasso entre CPLP fortemente influenciado pelo Portugal e Angola do José Eduardo dos Santos  e a CEDEAO nas maos do Alassana Ouattara na resulução  do impasse político que assolou o nosso país; enquanto os primeiros se posicionam contra golpe através d ameaças de  sanções e pronta a mobilizar uma "força estabilizadora", descartando qualquer possibilidade de negociar com os golpistas, assistimos horas depois, a chegada de uma delegação da CEDEAO  pronta a negociar crise com os golpistas em sucessivas reuniões. A CPLP, UA, ONU, UE foram vozes mais radicais ouvidas mas sem uma acção concreta. A CEDEAO, por sua vez, provou mais uma vez, a sua força e credibilidade na região, vencendo claramente a batalha geopolítica existente, em um comunicado de 10 linhas conseguiu aquilo que outras instituições em conjunto não conseguiram. Há argumentos de que os militares foram cedendo por causa das pressões, sem ignorar esta possibilidade, porém, há que admitir uma guerra existente no decorrer deste episódio e o mundo conheceu o vencedor desta guerra, que não é nem os militares guineenses, muito menos o governo da Guiné- Bissau.
 O golpe-de-Estado foi resultado geoestratégica da diplomacia das instituições multinacionais, servindo assim os seus interesses e, mais uma vez, vimos adiado em detrimentos dos interesses alheios,  o futuro do nosso povo e a estabilidade política que tanto desejamos. Não restam dúvidas, mais uma vez, estamos assistir a legitimação de mais um golpe-de-Estado, assim como em 1998, não haverá reposição de ordém nenhuma, será criada nova ordém, o Carlos Gomes Junior colheu o fruto da ingenuidade politica, arrogancia e prepotencia com que tem governado a Guiné-Bissau, foi exilado forçosamente como o Nino foi em 1998 sem a possibilidade de voltar ao país muito cedo e se ele for inteligente, vai aprender com o que aconteceu ao Nino e não voltar nunca mais ao seu país. Quanto aos militares, continuam sendo mão-de- ferro e instrumento da concretização de interesses qua não são da Guiné-Bissau. Aos políticos, restou a luta pela sobrivivencia, abriu-se mais uma oportunidade para ocupar os cargos e "mamar", mesmo que seja temporáriamente, antes que chegue novo ciclo da instabilidade.
Quanto a mim, bem, eu continuo aqui como a voz de sempre.. 

sexta-feira, 13 de abril de 2012

ADVOGADO DO DIABO


Hoje como tantos outros que passaram, mais uma vez os guinenses a lamentar e a palpitar o diabo entre nós. Triste e lamentável, dizem aqueles que mesmo querendo, não entendem o por quê de tanto sofrimento deste povo  do qual já não há dúvidas de desespero ao olhar para rostos de homens e mulheres sem rumo e sem destino, mas que ainda acreditam e confiam num dia melhor. Da nossa parte, como guinense, não deixaríamos de lamentar junto com tantos outros filhos deste país a forma como está a ser conduzido o destino das nossas vidas.
No entanto, diferentemente de vários compatriotas e aqueles que amam este país, não limito-me lamentar os factos, sinto-me na obrigação de fazer um exercício de reflexão sobre os mesmos dentro dos limites subjectivos do acto de reflectir, não faço nada mais que mapear o meu olhar sobre a situação que se vive no meu País.
A um tempo atrás escrevi sobre actuação da comunidade internacional na gestão de crises nos países subdesenvolvidos, as estratégias e a forma como essas crises costumam ser interpretados sob ponto de vista do colectivo das instituições que constituem aquilo que chamamos comunidade internacional. Quanto à acção, mostrei a forma como os mecanismos da intervenção destas instituições estão balizados por modus operandi institucional  determinado pelo critérios burocráticos dissociados às necessidades e urgência da problemática em causa. Deste modo, a acção como resultado prático, ela só é concretizado sob orientação de um processo de avaliação do custo- benefício, algo muito diferente daquilo que constitui o imaginário leigo da estrutura do gestão de crises por parte da comunidade internacional.
Esta forma realista de ver actuação da comunidade internacional, permite entender o conceito de   "acção humanitária" como um termo "politicamente correcto" para denominar a intervenção da gestão de crise num país, somente, no âmbito conceptual do termo. No  pratica, a concretização de acção, ela é entendida como resultado dos interesses expressos em formas duma estrutura burocrática institucional como instrumento que configura "modos de fazer" da diplomacia internacional. Isso dito de outra forma, traduz-se que, a estrutura de diplomacia é a continuidade da lógica do mercado no âmbito político, é esta lógica que determina e orienta  os modos de fazer das instituições internacionais pautada para custo-beneficio mesmo quando os discursos não a apresentam desta forma. Nesta óptica,  os discursos mediativos são a encenação teatral para plateia leiga que não vê os bastidores do ensaio.
Quanto a estratégia da intervenção, ela é simplesmente remota e obsoleta, não acompanha a evolução das sociedades a quem é destinada, está em descompasso com a realidade que se vive nos nossos países, isto sem considerar a sua brutalidade que ignora os valores culturais e tradicionais das sociedade à quem é imposta. 
Posto isto, podemos entender as situações em que a comunidade internacional em vez de ajudar a fazer gestão de crise, ela agrava a situação, envolvendo, muitas vezes, os nossos países em situações de caos, guerras civis, conflitos étnicos, hostilidades regionais etc... 
No caso especifico da Guiné, o que se viu é o cúmulo da irresponsabilidade e indiferença para com os ingredientes de um conflito eminente. A lógica do funcionamento da diplomacia internacional incitou de um lado, arrogância por parte dos governantes em desavenças com as forças armada, por ganancia e orientados pelo discurso da comunidade internacional no eventual protecção à sua segurança em caso de um eventual desordem por parte dos militares, ao em vez de optar  pela estratégias de gestão interna da crise eminente, optaram por discursos de confronto, enquanto a situação do país estava tensa com os  militares a darem sinais de crise, optaram por gritar viva a comunidade internacional, viva a Missang, como quem diz, a nós não conseguem fazer nada porque temos o apoio da comunidade internacional e seu exercito virtual. Mais uma vez, tornaram-se vítimas do tradicional discurso institucional da diplomacia internacional que, na prática, nunca se concretiza, pelo menos, o percurso histórico do nosso país evidencia este facto. Por outro lado, vimos despertado o  oportunismo de um grupo de políticos, na oposição, que por sua influência na forças armadas, viram no processo eleitoral um escape para concretizarem seus interesses oportunistas anti-democrático, pondo em causa a credibilidade do acto eleitoral, chamando atenção dos militares sobre a fragilidade institucional entre estes e  o governo virado à ilusões alimentadas pela  comunidade internacional. 
Tanto o governo que de maneira arrogante não soube administrar a situação que se vivia no país, quanto os políticos que mais uma vez instrumentalizaram os militares vulneráveis à qualquer influencia, contribuíram  para o constrangimento do processo da estabilidade do país. Enquanto isto, a comunidade internacional limita-se em condenar no seu tradicional discurso "apelamos reposição de ordem constitucional" mesmo quando em momento algum houvesse esta ordem.
O problema com os golpes de Estado na África transformou-se numa tradição mímica porque não há acção preventivo, muito menos, coercitivo destes actos, no pior dos casos, o que ouvimos é a condenação da comunidade internacional restrita ao discurso. Várias experiências, tem nos servido de exemplos como os golpes são espelhados um ao outro e em todas situações a comunidade internacional mantém a mesma posição, mas não tarda em legitimar os golpes, mesmo que inconscientemente, nestes países continuam embaixadas de diferentes países, continuam as empresas internacionais, continua-se negociar acordos económicos com os governos golpistas, as relações bilaterais continuam sendo sustentados porque servem aos interesses do mercado. 
Se os golpes são admitidos, legitimados em alguns casos pela própria comunidade internacional, esta prática torna-se comum e continua. Na sua  recente declaração, o porta voz das forças armadas guineense, deixou subentendido que em vários países africanos foram dados golpes nada foi feito e na Guiné também se o mesmo acontecesse, nada aconteceria. Isto mostra que, perante ausência de acções coercitivo a nível internacional às situações deste tipo, nada travará estes comportamentos no nosso continente a não ser que haja autoridades nacionais competentes para gerir as situações de crise internamente e , a cima de tudo, acreditar na nossa potencialidade em busca de soluções para nossos problemas internas, através de um diálogo franca e objectiva. 
Constitui uma ingenuidade politica gritante orientar a nossa política pela lógica de actuação da comunidade internacional, é uma estupidez tremenda acreditar que um dia vai a ver conjunto de militares para invadir o nosso país com intuito de prender os nossos militares corruptos e incompetentes. Isto só acontece nos países ricos em petróleo, nós não somos nenhum Líbia na África ocidental para merecermos este investimento. Há que perceber que, envio de qualquer contingente militar para um país, na óptica da diplomacia internacional, significa um investimento que custa muito dinheiro aos Estados participantes, o país a quem se destina tem de ter, a cima de tudo, a potencialidade económica para cobrir este investimento. Infelizmente, esta não é realidade do nosso pobre país. Vale salientar que, com a crise económica estrutural que abalou as economias  dos países, os Estados estão pautados na redução dos custos e despesas. Um país que se viu obrigado a cortar os efectivos na função pública a busca do equilíbrio orçamental (como é o caso de Portugal), este país, mesmo tendo a  vontade, não o faria porque a questão, não se limita à vontade de ajudar Guiné, a questão é: quem vai pagar?
Eis a complexidade da situação que para muitos é simples e fácil. Seria nos mais fácil pautarmos pela resolução das nossas "tretas" internamente.       


terça-feira, 10 de abril de 2012

MISSANG E A SOBERANIA



Desde o conflito civil militar que assolou o país em 1998, Os militares guineenses estiveram no centro de todos os problemas que o país vem enfrentando nos últimos anos. A insubordinação ao poder político por parte da classe castrense tem sido alegada nas opiniões sobre situação da instabilidade sócio politica na Guiné-Bissau. Negar este facto seria ignorar a realidade do país ou pelo menos, a situações que o país viveu em alguns momentos nos últimos tempos da sua realidade política. Porém, continuar a sustentar este argumento sem ter o cuidado de levar em consideração a peculiaridade de cada caso de instabilidade é, no mínimo agregar em um só argumento causas de um problema estrutural gigantesco que constrange o processo de instituição duma sociedade baseada nos fundamentais valores de um Estado de direito, regido pelos princípios democráticos que garantem a distribuição do bem-estar equitativo a todos. Não há dúvidas sobre a participação arbitrária dos militares na vida política do país que se viu, muitas vezes, atropelado pelos desmandos e desautorização das autoridades civis e política pelas forças uniformizadas, detentores da capacidade bélica para subordinar toda estrutura da mobilização social e política capaz de contrariar a sua vontade. Numa analise unilateral de estado das coisas, estas poucas linhas de raciocino resumem aquilo que para muitos, seria o suficiente em explicar a realidade guineense, por vezes, por simples razões de compromissos subjectivos de quem vê as coisas a partir de um ponto de vista tão levian e superficial para servir aos interesses não expressos, pode-se sim, inibir a vontade pormenorizada da análise da situação complexa que exige a neutralidade por parte de analista. No entanto, numa opinião livre de compromissos, quaisquer que sejam, não ignora o argumento em cima citado, mas seria capaz de identificar aquilo que conduziu o país à esta situação.
Para isto, há que reconhecer a incompetência dos políticos em lidar com a situação das Forças Armadas, a quem, em alguns momentos, por interesses políticos, os nossos actores politicos recorrem para assegurar poder, instrumentalizá-los desta forma para servir seus interesses mesquinhos e egoístas. Nestes momentos, os próprios políticos colocam os militares ao centro de toda autoridade e as decisões civis, o facto que viciou estes de imiscuir nos assuntos políticos a cima das suas competências constitucionais.
O caso MISSANG, mostra claramente o quão incompetente o governo é ao ponto de argumentar a permanência desta missão por ser um acordo afirmado a pedido do Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas. Desde quando e em que país, o CEMGFA tem a competência de apelar um acordo internacional baseado no envio de contingente militar estrangeiro no seu próprio país? É possível num país em que as autoridades políticas são incompetentes para assumirem suas responsabilidades constitucionais.
A MiSSANG, independentemente dos preceitos que fundamentaram a sua criação, não passa duma irresponsabilidade diplomática com tendências obscuras que atentam ao interesse soberano do nosso país. Mais uma vez, as nossas forças armadas assumiram a função do Estado tímido, incompetente sem senso de soberania. A diferença é que, se os militares agiam da forma inconstitucional, desta vez não fizeram nada além das competências a eles atribuídas na constituição da república que é de defender o interesse soberano e o território nacional. Se uma força estrangeira constitui uma ameaça a soberania e segurança do país, os militares são obrigados a se manifestarem para neutralizar esta ameaça. A nossa total solidariedade! 
Se a situação do país exige a presença duma força estrangeira, que seja uma força multilateral composta por vários países e que abdicam de materiais bélicos, não é disto que nós precisamos, não necessitamos duma força para vir fazer guerra, precisamos é de uma força que tenha, a cima de tudo, técnicos que vão intervir para ajudar na consolidação do processo de paz, para tal é imprescindível a presença de um contingente que abarca profissionais de diversas áreas, desde médicos, formadores profissionais (sim porque seria importante pensar em profissionalizar os nossos militares em diversos trabalhos técnicos : carpinteiros, mecânicos, marceneiro, electricistas, pedreiros, pintores, alfaiates, músicos) capazes de criar condições necessárias para acabar com inactividade dos nossos militares e com isto, diminuir os custos orçamentais com militares. 
Não obstante, Angola é um país irmão, tendo uma vasta experiência com o processo da consolidação da paz é um país parceiro neste sentido, não podemos abdicar desta parceria, mas desde que isto fosse ao encontro do interesse de ambos países sem ameaça a soberania nacional. A presença duma força militar com reforços de armamentos pesados paulatinamente, constitui flagrante violação da soberania e significa uma ocupação militar consentida e legal, se houver algum acordo que contemple esta clausula. Isso é grave sob ponto de vista soberan. Seria papel do governo contestar isto, não os militares, mas como as autoridades politicas se mostra incompetentes para assumir a postura do tipo, o resultado é, os militares os militares assumem este papel e legitimamente.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O fenómeno Américo Gomes


Não há dúvidas de que ao meio de tantas turbulências que por vezes tiraram a esperança dos guineenses, a cultura tem desempenhado um papel preponderante no processo de superação dos constrangimentos sociopolíticos que estrangularam o processo do desenvolvimento do nosso país. Ao considerar o contexto geral da expressão cultural em suas diversas formas, em especial destaca-se a musica e seus profissionais como verdadeiros heróis de todo um processo que aos poucos vai contribuindo para estabilização da situação sociopolítica da nossa sociedade e, como sempre, devolvendo o orgulho da “guinendade” aos guinenses.
A importância e a persistência dos nossos músicos na consolidação da identidade nacional pode ser testemunhado desde o processo da descolonização, onde assumiram o papel instrumental da mobilização e esclarecimento de diferentes sensibilidades do país sobre a sua condição perante as forças imperialistas opressoras, mostrando a necessidade de acção para resgate dos valores soberanos da nação. Neste processo, são nomes de vários músicos que teríamos que aqui citar como verdadeiros heróis nacionais e combatentes da liberdade da nossa querida pátria, o que não é o caso deste trabalho. Há que admitir que, num país onde tudo esteve parada, nada funcionou (política, economia), a música tem se mantido persistente, tornando-se o espaço de refúgio das nossas angústias, referencia de orgulho nacional durante todo este tempo graças a competência e cidadania dos nossos músicos. No entanto, este ensaio, muito longe da visão de um musicólogo, apenas tange a importância que o musico Américo Gomes tem para música moderna guineense. Em sua essência, mais que um artista guineense, Américo Gomes é a expressão do talento e criatividade da música moderna dos PALOPs, como tal, consegue transitar às fronteiras geográficas e culturais sempre engrandecendo “bandeira nacional”. Não vai aqui nenhum juízo de valor: pode-se gostar ou não desta expressão que ele representa,  muito injusto seria não admitir que ele é a expressão da  capacidade criativa, talento e inovação que reside no espírito do jovem guineense.
Ao ouvir algumas músicas do seu novo trabalho, os mais radicais críticos nacionalistas da música guineenses não hesitariam em apontar a sua fusão com os ritmos internacionais mais “pops” com aquilo que é ritmo genuinamente guineense. Mas também não é difícil argumentar o contrário: o que seria genuinamente guineense se até aquilo que julgamos ser originária da guiné não dispensa ritmos trazidos de outras fusões musicais. O facto é que, não dispensado de qualquer crítica e elogio, entre as duas coisas, encontra-se o limite exacto que baliza todo o “saber fazer” do homem moderno e é exactamente o que Américo Gomes está constantemente afirmando nos seus trabalhos. Para quem acompanha o percurso deste guineense na música, pode testemunhar a sua constância neste meio. O que em outras palavras traduz-se em carisma e a popularidade que ele tem conquistado. Américo Gomes é o musico do qual  os fãs esperam sempre o melhor e ele tem cumprido este pacto com aqueles que o admiram. De um álbum seguido de outro, vê se o progresso constante, prova a competência em fazer aquilo que se propõe fazer, assume o papel da cidadania com temas apelando unidade nacional, valorização daquilo que é nosso. Américo Gomes, em todas os seus trabalhos faz questão de afirmar sua identidade, primeiro, guineense como uma identidade politica agregada e a partir da qual, mostra que também é Manjaco filho de Canchungo expressando assim a essência de uma identidade híbrida que faz dele o fruto de um conjunto de valores e riquezas culturais, tornando-se num fenómeno que ele representa para cultura moderna guineense. Por outro lado, eis aqui a peculiaridade daquilo que é um profissional consciente da sua identidade e com o qual se justifica o talento, criatividade em forma da pessoa, cidadão, Américo Gomes.     
É este o espaço que ocupa no imaginário dos seus fãs: o espaço do mito. Ele não foi o primeiro grande ídolo da música do nosso país- para isto teríamos que apontar os grandes “elefantes” lendários da nossa música e não nos pouparia espaço neste texto- mas há que reconhecer, pelo menos, a seu tempo, foi aquele que conseguiu manter a constância da fama num ambiente dominado pela cultura da tecnologia, que surgiu com o fortalecimento das redes sociais, especialmente o segmentado para jovens. É pertinente, portanto, afirmar que o fenómeno Américo Gomes é o que há de mais tradicional e ao mesmo tempo, moderno na música guineense.
Eu como guineense, não poderia deixar de dar o meu contributo, desta maneira, dar os parabéns ao Américo Gomes, pelo trabalho e o seu contributo para nossa cultura e como jovem, sinto orgulho de ser representado por ele. Fica aqui a minha força e votos de sucesso em tudo que ele faz.  




quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Entre orgulho de ser guineense e sentir-se patriota.


Ao fim de muitos anos de turbulência, tudo parece normalizar-se  em ti. Angustiado quem te viu ontem, feliz é quem te vê hoje ou, pelo menos, hoje. Tudo em ti assemelhava um imenso purgatório no qual os teus filhos sobrevivem expiando pecados que não são seus. Gotinha a gotinha, aquilo que se vê hoje é o orgulho dos teus filhos a ser devolvido. Como é bom te ver a crescer? Como é bom te ver a "esquecer" o "velho passado"? Como é bom te ver mirar a prosperidade de que tanto anseia os teus filhos?
Apesar de ser uma viagem longa e algo cansativo, o progresso é um destino que não desilude.  Mesmo sem ostentar  grandes saltos, em termos de infrastruturas do "primeiro mundo" como desejam os mais ambiciosos dentre os teus filhos, a verade é que, o que se julga pouco aos olhos daqueles que já viram "muito", não deixa de ser "muito" para aqueles que "muito" não viram, ou melhor, para  onde nunca houve "muito".
A consciência de que ainda há problemas, e muitos, ignora-los seria pretensioso a cúmulo, no entanto, arrogantes seremos a não admitir as gotas do progresso na Guiné. Reconhecer isto está além do patriotismo que  muitas pessoas julgam faltar aos guineenses, mas sim, é a obrigação que temos de ser realistas.
O que se vê nos discursos de vários guineenses neste momento, é uma tendência de incutir um certo tipo de "obrigação moral" na qual  todos devem  se assumirem como patriotas, como se fosse a falta disto justifica  o fracasso que o nosso país já foi. O que na minha opinião, não deixa de ser  uma superficialidade ingénua em apontar os motivos que conduziram  a Guiné à situação em  que se encontra. Mesmo que fosse esta a causa principal, recai a questão do que se entende por patriotismo. Neste caso, nos vemos confrontado com  equívocos em significar e  interpretar o patriotismo como conceito, baseando-lhe na concepção daquilo que se entende por patriotismo remoto dos séculos passados, fundamentado no radicalismo ideológico que afundou as sociedades no abismo das ditaduras mais severas da historia da humanidade. Eis o que assemelha a isto, propaganda gratuita e abstractas sem teor prático, desmunida de qualquer acção concreta materializada em termos da exibição d símbolos nacionais no facebook, ostentação da bandeira nacional, exibição das imagens dos heróis nacionais como prova daquilo que se acredita ser patriotismo, ridicularizando qualquer senso crítico ao país e seus governantes. Enquanto que, o espírito da cidadania, o  abdicar-se em prol da nação, o fazer pelo bem de todos ,o  trabalho, a verdade sem condicionantes morais ou ideológicas, a visão crítica da realidade,  os factores essenciais para progresso duma sociedade , muitas vezes, caem no esquecimento e passa-se valorizar as memórias abstractas que em nada contribuem para materialização do bem estar.  Alguns mais radicais e fundamentalistas sem fundamentos, acusam de traição  á pátria, de difamadores do nosso país, todos aqueles que fazem leitura crítica da nossa realidade. Vê se assim, a promoção da aspiração reaccionária no seio da nossa sociedade.
Sonhar é bom, mas é imprescindível a consciência de que,  nenhuma nação se construiu com as frases típicas "Minha Pátria Amada; Querida Pátria; Nossa Bandeira é Linda; Eu Amo o Meu País; Pai da Nossa independência;..." sem pretensão de desmerecer algum sentimento nacionalista que se expresse de alguma ou da outra forma, vale salientar que, muito além das frases abstractas e vãs, a nossa sociedade precisa e exige de nós o trabalho em todos aspectos práticos que se entende. 
Na verdade, é disso que nos propomos a ilustrar aqui, o fruto do que realmente podemos significar como espírito da cidadania, patriotismo, nada além da ambição de sentir orgulho daquilo que somos e o que temos, a vontade de superar as nossas dificuldades, interesse em apresentarmos melhor perante  nossos parceiros, a certeza de sentimos parte e fazer parte dos bons. Este é o verdadeiro espírito da cidadania, este é o início da edificação duma sociedade digna, alicerce para institucionalização do direito que assiste a todos, em fim, sentir-se parte de um Estado de direitos onde possamos investir as nossas capacidades para contribuir para o progresso. Isto não se faz com conformismo difusa, orgulho dissimulado, tendência de dizer que tudo está bem mesmo quando não está, pretensão de achar que tudo é lindo só porque trata-se da Guiné-Bissau mesmo quando é dos piores que existe ao redor do mundo. Patriotismo é ter ambição para progredir, ver criticamente aquilo que temos, identificar as nossas fraquezas, tentar superá-las, aproveitar as oportunidades que nos aparecem. Um povo reaccionário, conformista ajuda afundar o seu país, não deixa espaço para inovação, muito menos criatividade, os factores sem os quais não há progresso.  













Não há dúvidas de que o actual governo, apesar de varias pendências em termos estruturais, tem evidenciado esforços mesmo que ainda  à conta gotas (naturalmente num país como o nosso) para superar os entraves elementares para progresso da nossa sociedade. Ainda é pouco, mas muito, para um país como a Guiné, basta olhar pelas novas infraestruturas rodoviarias, sinalização do transito, pagamento em dia dos funcionários públicos, iluminação pública a melhorar aos poucos. Ou seja (com todos cuidado da minha parte, como quem  conhece, e  bem, a realidade do meu país) vejo, afirmo e as imagens expressam-na melhor que as palavras, está evidente os sinais do progresso, até porque se, muito se começa com pouco, então, não deixaremos de parabénizar todos os guineenses que têm contribuído para que tudo isto torne a realidade, especialmente aos funcionários públicos. 
Estas imagens foram recolhidas do facebook, tomei a liberdade de publicá-las, pelo que deixo aqui as minha mais valiosas considerações aos respectivos autores: http://www.facebook.com/profile.php?id=664191579http://www.facebook.com/nivandrohttp://www.facebook.com/profile.php?id=1162847577http://www.facebook.com/profile.php?id=100000703647032

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O meu primeiro contacto com uma sociedade de direitos e civilidade.

Tudo o que eu vi até então sobre direitos e civilidade não passava de mera teoria enfeitada de moralidade que há muito constitui a base de discursos institucionais que fundamentam as mais remotas "boas intenções" abstractas da sociedade humana. Na prática, logo se revela as discrepâncias daquilo que nos ensina nos livros de "bons costumes políticos" e o que caracteriza a nossa condição como habitantes das sociedades. A minha noção sobre conceitos de bom governo, Democracia, Estado de Direito, Liberdade, Igualdade, são mera reprodução de significados conceptuais vagos os quais nunca tinha constatado na prática. No entanto, eis aqui uma experiência que eu não posso deixar de compartilhar, dada a importância e a curiosidade que isto tem me despertado.
Durante a minha visita à Copenhage (Capital da Dinamarca), confesso que, eu, cidadão do terceiro mundo que viveu e vive a alguns anos em diferentes países de Europa, América, nunca tinha sido impressionado suficientemente pelo grau da eficiência da governabilidade de um país como a Dinamarca. Lá, eu constatei a presença do Estado em todos aspectos da vida do cidadão duma forma tão eficaz sem ser autoritário. Vi coisas que me fazia questionar a tempo todo, como é possível chegar aquele nível da eficiência política capaz de optimizar todas as estruturas da sociedade sem deixar de ser equitativo. Estou a referir-me aos conceitos muito difícil de conciliar em termos práticos. Alguns países atingiram eficiência politica sem optimizar as estruturas sociais, deparam com as desigualdades sócio-económicas, as questões de equidade distributiva e tributária, direitos e dos benefícios oriundos das politicas públicas. Esta não é a realidade do país que eu me propus a falar aqui. Trata-se neste texto de um país que me levou a constatar aplicação da democracia e o Estado de direito começando pelas casas dos cidadãos até à praça publica no sentido metafórico do termo. Sem precisar de levar anos para estudar o sistema politico da Dinamarca, a minha experiência nas ruas responderam-me as questões que vinham-me à cabeça, em cada autocarro que eu apanhava, cada viagem de metro, cada praça pública que eu usava para desfrutar a minha curiosidade de conhecer um país estranho, deparo-me com cidadãos que a cada gesto, pareciam-me dizer "o nosso país está como está porque nós somos isto que estás a ver". A partir dai, eu passei a não dar muito enfoque nas paisagens física da cidade, a pessoa humana passou atrair-me mais que qualquer outra coisa que eu possa julgar mais linda do mundo. Estas sim, mostravam ser a tempo todo cidadãos, não mera habitantes duma cidade. Isto levou-me lembrar da teoria uma lição básica da teoria clássica da sociedade civil; " para que haja uma sociedade forte, precisa-se de formar cidadãos", preparar pessoas para exercerem cidadania, pessoas com um saber imprescindível para viver numa sociedade cívica e democrática, este saber é nada mais que a "consciência da cidadania" . Não tenho dúvida de que um dinamarquês não é o modelo do homem mais "civilizado" do mundo e tão pouco a minha pretensão é mostra-lo aqui como um homem americano referenciado no "Democracia na América". Salvo generalizações, faço as minhas considerações na média daquilo que vi e pude interpretar graças as ferramentas de reflexão que a minha experiência facultou-me.Fiquei impressionado com o modo de vida das pessoas que a tempo todo fazem questão de ser cívicos, preocupados em não esbarrar nos direito do próximo, pessoas que sentem vergonha de infringir as regras e não o fazem porque julgam isto ser moral ou não, mas sim porque ao cumprir as regras facilita a convivência com outras pessoas. O comportamentos de um sujeito é algo mais valorizado naquela sociedade, uma sociedade extremamente auto arbitraria com qualquer gesto que possa por em causa as relações sociais dos cidadãos e das instituições públicas. Este nível da eficiência cívica levou-me à outra questão; para que serve Estado à esta sociedade que se auto governa? não seria este o estágio óptimo da sociedade na concepção marxista da evolução política outrora tida como alternativa para sociedade humana? Pois, eu tive que conter-me porque comecei a relacionar coisas que talvez não levavam-me à nenhuma resposta. O Estado é necessário, talvez porque o ser humano não consegue viver sem uma autoridade, por mais limitada que esta seja, faz-se necessária para evitar anomalia social pensado como estado patológico da vida social na concepção conservadora da teoria social e muito bem fundamentado na concepção absolutista do Estado pelos teóricos de "estado de natureza" "homem lobo de homem". Não obstante, eu pude deparar com um modelo de Estado moderno, um Estado baseado em outrs horizontes, enraizado numa engenharia politica calculista peculiar, onde a principal preocupação é a racionalização dos custos. Com custos, quero referir-me aos custos sociais, as consequências de qualquer erro politico para sociedade, custos que que subtraem Bem Estar dos cidadãos. Neste modelo de Estado, nos vemos confrontado com a racionalização da política como ferramenta de minimizar os custos em todos aspectos que reflectem no Bem Estar da sociedade, a começar por minimizar os custos de governação ou custo marginal de aplicação coerciva da infraestrutura burocrática à vida pública (sustentabilidade da máquina burocrática do Estado), custos da procura pelo Estado (tornar o Estado mais próximo do cidadão quando este precisa), em outras palavras, garantias dos serviços público necessárias (Educação, Saúde, Segurança...) de forma a evitar maiores gastos posteriores com correcção das consequências. Com isto, atinge-se o ponto óptimo da eficiência governativa entre o Estado e a sociedade civil como diria o Pareto. Posta de outra forma, uma estratégia politica que não leva em conta os custos, corrói toda estrutura de governabilidade conduzindo à "falha do Estado" que consequentemente geram "externalidades" negativas nocivas para o Bem Estar social. Quando Estado falha, a sociedade arca com os elevados que traduzem em problemas sociais relacionados ás questões de analfabetismo, problemas com saúde pública, segurança, problemas estruturaissocioeconómicos.
Tudo isto pode parecer muito teórico até ver como funciona na realidade, voltando ao nosso assunto, caso Dinamarca. O grau da consciência dos dinamarqueses permitiu construir uma sociedade que, por excelência, permitiu atingir um grau de eficiência governativa peculiar com base nos ideais democráticos consolidados na vida prática dos seus cidadãos. Começamos por coisas básicas: num país, onde o sistema de transporte público parece livre, não precisa de gastar milhões de dólares no sistema de fiscalização de transportes pois, ninguém usa transporte publico sem pagar por ele, isto seria uma vergonha na consciência dos cidadãos, as empresas de transporte público não vão à falência, não geram dívidas para depois afectar toda estrutura económica do país, pagam impostos sem burlar o fisco incentivam novos investimentos na modernização das frotas, vias ferroviárias e rodoviária ( Menos custo na fiscalização, melhor fornecimento do serviço para cidadão, garante do bem estar da sociedade). O património público é algo do mais sagrado que existe e tem que ser encarado por todos desta forma. A contrário do que estados acostumado a assistir nos outros países, onde tudo que é público é roubado, burlado, vandalizado e posta à festa pelos cidadãos.
Na Dinamarca, a alta consciência do cidadão isenta o Estado dos gastos nas campanhas de sensibilização, implacável consciência ambiental dos cidadãos evita doenças geradas por consequências ambientais (menos gasto com saúde pública) , pratica de colecta e reciclagem de resíduos, facilitando colecta e tratamento do lixo, casas ecologicamente sustentável, permite poupar energia, fornecer serviços duma forma sustentável sem desperdício, diminuição drástica de certos desperdícios que ao cofre do Estado e para economia custam muito. Todo este sistema de cuidados e redução de custos geram excedentes ao cidadão e contribui para Bem- Estar da sociedade no seu todo, aumentando a credibilidade do país a nível internacional para investimentos.
Em fim, não conto expor toda minha experiência neste pequeno texto, para isto precisava de escrever um livro. No entanto, a minha intenção foi de mostrar o quanto fiquei sensibilizado com a realidade dinamarquesa e como isto serviu-me de lição para vida toda, as dúvidas que isto tem me esclarecido. Confesso que sou um fanático pela arte de governar, em cada passo da minha convivência questiono-me, sinto-me impressionado com as formas modernas de fazer politica, não consigo conter a minha emoção ao deparar me com coisas que mudam vida das pessoas para melhor, a minha maior curiosidade é de saber como construir uma sociedade que garanta o mínimo possível para todos os seus cidadãos sem entrar num estado de conflito entre as diferentes camadas sociais. Cada livro, cada artigo que eu leio, não paro de fazer este exercício de reflexão comigo; "wáu, como as pessoas conseguem?", será que precisamos ser muito ricos em petróleo, diamante, ouro para melhorar vida das pessoas? A Dinamarca mostrou-me que não. Acredito que tudo isto passa por trabalho de formar cidadãos conscientes para colaborar com o Estado em todos aspectos. Para isto, é preciso darmos atenção à educação, precisamos educar o nosso povo, só assim seremos capazes promover mudança social. Cidadão consciente é aquele que, a cima de tudo, tem a consciência de que, cada voto que foi desperdiçado, cada resíduo que foi depositado na terra, cada regra que burlamos (no transito, nas instituições publicas, no transporte público...) cada dano que causamos ao património público, nossas escolas, hospitais...envolvem elevados custos sociais, as quais levamos anos para reparar. Podemos com o nosso pequeno gesto deteriorar a vida de muitas pessoas com um comportamento que, muitas vezes, nem damos muito valor.
Finalmente, aprendi que esta experiência ajudou-me compreender melhor que nenhum país é eficiente se não existir cidadãos conscientes, muitos países têm habitantes e pessoas desorientadas que passam grande parte de suas vidas a cobrar da sociedade e nada fazem por ela. Pude perceber que a sociedade civil constituída por cidadãos portadores da consciência politica como subsidio para sua própria autocrítica e promoção da sua mudança é a base de tudo, se não existir uma sociedade civil preparada não existirá um bom Estado. Eu, cidadão do terceiro mundo, nascido num país pobre, toda esta experiência faz-me pensar numa única coisas; o "modo de pensar". Somos diferentes justamente porque pensamos diferentes e isto vai moldar os nossos valores, a nossa acção em todos aspectos e todas as relações sociais que mantemos dentro das nossas sociedades.
Isto relacionado com o nosso país especificamente, talvez é inoportuno qualquer tipo de comparação neste caso, mas de uma coisa estou certa, a mentalidade do nosso povo e o grau da instrução do mesmo contribui para o estado em que se encontra. Vivemos numa sociedade em que centramos tudo no Estado, empobrecemos a nossa potencialidade de acção como cidadãos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A face oculta da revolução facebook


A luta da era das tecnologias avançadas foca-se numa busca incessante da liberdade em todas as suas vertentes possíveis de alcançar. O surgir das novas tecnologias trouxe consigo alguns benefícios para a sociedade humana, o mais virtuoso de todos é a mobilidade virtual do sujeito tecnológico permitindo lhe acessibilidade à informação de uma forma mais democrática e menos custosa em qualquer ponto do planeta em que se encontra. Graças a tecnologia o homem actual se move em questões de segundos. As chamadas redes sociais virtuais traduzem exemplo deste benefício e cujo resultado real é a sua transformação numa ferramenta de luta politica mais prática e pacifica em pleno séc. XXI.
 Os protestos nos países árabes evidenciam concretamente esta convicção e é aquilo que a muito tempo se previa nas previsões das mais atentas análises da realidade do mundo árabe. O que escapou dessas previsões é a forma como isto poderia acontecer e em qual conjuntura politica poderia transformar-se. O facto que ainda continua sendo uma incógnita na opinião publica mundial.
Mas a verdade é que, os países árabes, na sua maioria, mergulhados numa realidade de instabilidade politica, muitas vezes influenciada pelos interesses alheias ao povo dessas regiões e consequentemente manifesta-se num cenário de desigualdade social, pobreza, a divisão hostil das seitas religiosas. A revolução é a face daquilo que constitui o pensar do homem árabe durante muitos anos que só agora surgiu oportunidade de expressá-la de uma forma política “aceitável”.
É de salientar que, a convicção de que o muçulmano “jamais terá paz, estabilidade, força para defender-se da guerra que o ocidente desencadeia contra o mundo islâmico se este não se submeter incondicionalmente ao verdadeiro e a mais pura doutrina de Allah”. O que significa dizer que enquanto o homem árabe se distancia da ”mais pura lei do alcorão (considerada a guia da vida do homem na terra em todos aspectos), mais frágil estará perante as forças inimigas, a sua cultura, a sua religião e a sua própria dignidade ver-se-á posta em causa e sistematicamente humilhada”. Baseando-se deste modo nos princípios que fundamenta a doutrina islâmica “solidariedade do povo do Mohamad (espírito de umma) justiça social, a defesa da palavra de Allah e a tradição do profeta Mohamad  (Sunna)”.
A luz desta consciência, surge um novo sujeito muçulmano interessado em resgatar aquilo que considera ter perdido. A nova geração muçulmana expressa novos anseios assentados na busca da verdadeira face do Islão não restrita à prática de cultos e como um factor de identidade. Muito além dessas formas tradicionais de ser muçulmano, Islão que se pretende  é aquela que vai fazer parte da vida do muçulmano em todos aspectos da sua vida como um ser social. Isto vai de criar regimes políticos orientados em função do modelo político expresso no alcorão, configurar as relações económicas e os interesses, até na mais elementar organização de modo de vida do individuo e Estado.
O desejo por liberdade, justiça e democracia não passam de emblemas universais “aceitas” e que mobilizam a opinião pública internacional para apoiar qualquer iniciativa política no mundo. Incorporar esses valores ao objectivo da revolução, não passa de uma acção politicamente estratégica para alcançar-se o verdadeiro objectivo dos povos árabes focado a defesa da identidade muçulmana e a proteção do património regional.
Durante muitos anos de regimes ditatoriais no mundo árabe, não se fez nada mais que criar uma elite supra rica e um mar de “desgraçados” mergulhados numa situação de pobreza alarmante, praticamente uma calamidade socioeconómica marcada por ondas de violência e instabilidade política sem fim, guerras, desemprego, vítimas de ataques culturais e submissão do povo à uma realidade de opressão constante tanto pelas forças internas, assim como pelas forças externas. Por outro lado, o que se vê é a ostentação de riqueza por parte das elites, propagação de uma cultura de consumismo escandaloso de bens materiais milionários, carros de luxo, produtos ornamentados de ouro e diamante, bens que muitas vezes não se usam nos países de origem. Tudo isto, traduz-se como “uma agressão aos preceitos Allah e contra o modelo político que o Mohamad pregou”. Associação destas duas éticas, expressa os valores assentados na “solidariedade, justiça, não ostentação da riqueza do povo”.
Colocar islão no centro de tudo que move acção do sujeito muçulmano é o principal símbolo da revolução visto que, até então não se conseguiu isto devido grande obstáculo que os líderes políticos do mundo árabe colocavam e por isto, não são considerados pelo povo como “verdadeiros muçulmanos”, são meros “seguidores das ilusões mundanas”. Por outras palavras, vale dizer que o objetivo da revolução passa por criar uma nova ordem sociopolítica com estratégias diferente daquilo que regia a realidade do mundo árabe. Vale dezer o  mesmo que redefinir as relações entre oriente médio e ocidente, reinventar novas relações dentro da liga árabe que tenderá ser cada vez mais forte em vez das divergências de interesses entre os países que a constitui. Este é o verdadeiro anseio do homem árabe, sobretudo a nova geração representada na sua maioria pelos jovens universitários dispostos a criar uma nova realidade sociopolítica nos seus países. 
Com isto, não estou afirmar que vão surgir novos regimes teocráticos na região, diferente disto, emerge uma nova ordem sociopolítica estratégica que tende alterar a conjuntura das relações entre países árabes e outros países - não necessariamente “radical” como muitos preferem - configurando-se numa realidade mais solidária e focada na defesa da identidade muçulmana e de todo património económico e cultural do mundo árabe. No lugar dos conflitos de “interesses mundanos”, emerge uma luta pelos interesses da identidade religiosa reforçada pelo fortalecimento do espírito da “unidade contra inimigo”. Obviamente isto significa um golpe aos interesses ocidentais, sobretudo aos interesses dos Estados Unidos que vê o “radicalismo islâmico” como ameaça aos valores do ocidente.
Seria ingénuo da minha parte afirmar que haverá uma realidade política cujas relações com ocidente vão ser rompidas,  considerando a interdependência estrutural de interesses destes países com o ocidente. Mas a iminência de uma relação estratégica mais atenta aos interesses do povo árabe e que não constitua ameaça à identidade muçulmana está evidente.
Muito distante daquilo que se prevê no senso comum, estados democráticos regidos pela liberdade, justiça e respeito pelos direitos humanos, vejo novas formas de fazer politica capaz de mudar a ordem da diplomacia entre os países, vejo sobretudo homens e mulheres – envolvidos numa realidade de guerras entre civilizações, exploração, alienação dos interesses e afirmação da identidade - determinados a unir-se em prol da defesa da sua identidade de uma forma mais estratégica como nunca tinham tido esta oportunidade. Não restam dúvidas de que a revolução não para por aqui, haverá mais países envolvidos, em alguns pode custar vida de milhares de civis, como está sendo na Líbia.
O desejo por desenvolvimento dos países árabes, construção dos estados democráticos, a liberdade do povo é parte daquilo que constitui escopo da revolução, mas além, está o que não se expressou ou ainda é cedo para expressar e é o que constitui o que estamos a chamar da face oculta da revolução. Isto passa pela construção dos Estados consolidados em termos ideológicos em prol de uma sociedade justa onde a distribuição da riqueza é vista como inadiável, permitindo a aplicação mais justa de petro-dolares, sobretudo na educação, saúde e segurança publica para defender a soberania nacional e fortalecimento da identidade muçulmana.