O momento que o nosso país atravessa é certamente muito especial e exige reflexão de todos nós, independentemente, das nossas convicções partidárias ou qualquer coisa do gênero. Isto é tão certo quanto o cuidado que devemos ter ao fazermos certas reflexões, sobretudo acerca da política guineense.
Não deixa de ser precipitado e tendencioso fazer crítica às viagens do recém-eleito presidente da Guiné. Se não vejamos: a atual conjuntura política internacional exige cada vez mais a integração dos Estados para resolução dos problemas que o quotidiano lhes coloca. Neste quadro, quanto mais um Estado/estadista consegue cultivar relações multilaterais sólidas com outros Estados, mais estável e competente estará para responder aos desafios que a sua função exige enquanto representação suprema e soberana do seu povo. Ou seja, nenhum Estado/estadista é tão forte e competente ao ponto de dispensar as parcerias internacionais.
Parto dos princípios fundamentais que regem a política internacional e que são necessariamente essenciais para o desenvolvimento de qualquer país na face da terra.
Com vista a este entendimento, entendemos estas viagens aos países amigos dentro do quadro de estabelecer relações multilaterais com os países da região da costa africana e os países membros do CPLP, como qualquer outro estadista interessado em consolidar a integração regional dos países pobres e subdesenvolvidos. Entende-se este procedimento como uma estratégia política porque mostra sinais de maturidade e consciência daquilo que hoje constitui a preocupação tanto da política internacional, quanto da política doméstica.
Posto isto, não venho por este entendimento a justificar as viagens tradicionais dos nossos governantes, menos ainda, incentivar comodismo reacionário por parte de “analistas políticos”, mas sim, enquadro o meu raciocínio no âmbito da atual conjuntura política do nosso país: Um país, que há bem pouco tempo, teve o seu presidente esquartejado e o chefe de Estado Maior, General das Forças Armadas, assassinado à bomba. Um país, taxado de ser dirigido por um narco-estado e frequentemente ameaçado de ser isolado da comunidade internacional. Muito mais que dever, é obrigação dos seus dirigentes reconstruir sua imagem perante a comunidade internacional. Isto se dá através de consolidação de parcerias e manifestação de vontade de devolver ao Estado, a credibilidade tanto interno quanto internacional.
Angola, Cabo Verde, Gâmbia, Senegal são países que se mostraram amigos da Guiné-Bissau durante todo o tempo que o nosso país passou por momentos difíceis e de forma direta ou indireta, serviram de porta vozes perante a comunidade internacional defendendo que esta não devia abandonar a Guiné-Bissau. Em alguns casos, estes países serviram de intermediários dos conflitos internos do nosso país, manifestando toda sua preocupação com os nossos problemas.
À luz deste entendimento, o gesto do presidente eleito tem um significado político que não se limita ao simples fato de se deslocar pessoalmente para convidar seus homólogos para cerimônia de posse, muito além disso, a presença destes países neste evento servirá de provas de que a Guiné-Bissau está partindo para uma nova fase da sua política e que os guineenses estão preparados para isto.
Ao interpretar estas viagens fora deste contexto, estaremos caindo num reducionismo analítico preso aos nossos compromissos ideológicos e convicções partidárias que não nos deixam ver nada além do nosso umbigo.
É verificável, que muito se escreveu sobre a Guiné-Bissau em jornais, artigos na Internet, revistas que condensados demonstram, na sua maioria, enviesados e presos ao vício de criticar tudo e pôr defeito em todos. Poucos se dão trabalho de trazer reflexões construtivas, capazes de subsidiar a conscientização do nosso povo e consequentemente, formação da opinião política cidadã. Muito contrário disso, o que se verifica é oportunismo exacerbado de pessoas que se dão luxo de se apresentarem como intelectuais.
Alguns até ousados de mais, vestem a camisa de cientistas sociais, sendo que na realidade, não passam de sujeitos sujeitados aos compromissos partidários e interesses obscuros sem fundamento nenhum, desprovidos da ética intelectual e que suas idéias estão sistematicamente baseadas no senso comum.
As maiores vítimas da continuidade desta situação são os analfabetos sistêmicos que compõem quase 90% da população de nosso país, grande parte deles leigos em conhecer as questões política nacional e internacional (o grupo da qual eu faço parte também, mas pelo menos eu sou humilde em reconhecer esta condição). Então, não seria interessante uma reflexão em que estivesse embutido o nivelamento educacional de toda população? Como apoio, também sistêmico, a tentativa do presidente eleito em trazer olhares e parcerias ao nosso país?
A voz!