sábado, 20 de fevereiro de 2010

Reflexão sobre coisas nossas! Que África queremos construir!?


Eu estava navegando por este mundo virtual quando deparei-me com uma noticia que fez-me refletir sobre certas questões que marcam o quotidiano das sociedades modernas. É interessante observar que quanto mais modernos nos proclamamos ser, quanto mais evoluídos e globalizados julgamos ser, ainda continuamos atrasados com relação a certas questões do nosso dia a dia.

A intolerância com as minorias que gera exclusão automática de uma parcela da população mundial constituiu um dos maiores problemas da historia humana na antiguidade e, continua sendo maior mal da sociedade moderna.

Vivemos numa época em que, proclama-se maior avanço em todos os aspectos da vida social, sob sombras de uma explosão de invenções cientificas e tecnológicas, o ser humano se julga mais livre e emancipado como jamais foi em qualquer outra época. À luz desta percepção, os mais fanáticos do progresso da sociedade moderna diriam que nunca o animal “HOMEM“ foi tão consciente de si mesmo e de tudo que encontra-se ao seu redor como agora o é.

Ao analisarmos as sociedades em que vivemos como “faca de dois gumes“ (refutando análise do sociólogo inglês Antony Giddens na sua discussão sobre as conseqüência da modernidade), podemos chegar a conclusão de que realmente, há muitas coisas a serem consideradas para que possamos estar em condições de nos considerar, realmente, cidadãos de uma sociedade que julgamos ser moderna. Ou seja, ao mesmo tempo em que podemos enaltecer os progressos desta época pelo avanço cientifico e tecnológico e pelos benefícios trazidos por este avanço, tanto na mobilidade do ser humano (considerando comunicação, transporte, maior conforto em diversos aspectos da vida humana), quanto na libertação do ser humano das amarras da sociedade tradicional (homem emancipado do moralismo de antiguidade, arbitrariedade das instituições conservadoras). Contudo, torna-se imprescindível considerar a outra face daquilo que hoje consideramos o “progresso“ emancipador da espécie humana, principalmente, ao voltar o nosso olhar a um mundo balizado por uma cultura que julga as pessoas não pelo que elas são, mas, como são pela cor da pele, pela opção sexual ou pela linha da ideologia que seguem. As chamadas minorias sociais, em todas as sociedades humanas, são consideradas marginais, como se nunca tivessem contribuído para reconstrução da história cultural, social e política da suas sociedades.

A discriminação e preconceito rodearam nossas sociedades o tempo todo na antiguidade e continuam configurando a ordem social da época moderna. O sistema que caracteriza a sociedade moderna é altamente ambígua e excludente, não acompanha a heterogeneidade da sociedade humana, conseqüentemente, ela produz um tipo especifico de homem moldado de acordo com os valores que condizem a essa lógica ambivalente.

A intenção aqui não é afirmar, de forma alguma, que não vivemos em sociedades diferentes daquelas que viviam os povos que hoje consideramos atrasados, mas sim, questionamos, até onde o “progresso“ de que tanto nos orgulhamos ajudou diferenciar a nossa forma de pensar da forma de pensar daqueles que julgamos ser atrasados? Dita de outra forma, em que medida o avanço cientifico e tecnológico que proclamamos, ajudou a diminuir fome, exclusão, discriminação, preconceitos dentro das nossas sociedades? Problemas que pela lógica, não condizem com as expectativas que o próprio sistema alimenta.

Até onde nós somos diferentes dos povos que usavam métodos de suplicio para punir os delinqüentes se nós ainda, na sociedade moderna, somos extremamente intolerantes com as diferenças, apedrejamos as mulheres, enforcamos os políticos que acusamos serem ditadores, não aceitando aqueles que se afirmam ser não-convencionais?

O sec. XX trouxe esperanças para aqueles que lutam pela afirmação dos direitos humanos, foi o sec. que fez surgir vozes da luta, fragmentou as ideologias, fez ouvir, pela primeira vez, na historia da humanidade, vozes que sempre foram reprimidas e marginalizadas.

Depositava-se esperança na possibilidade da união de todos aqueles que têm uma historia de exclusão sob a mesma bandeira para diferentes lutas, pois, por mais que as lutas fossem descentralizadas, os interesses fragmentados, no fundo, havia algo em comum que unia todas as lutas. Afinal, o que está em causa é a questão do direito, direito ao reconhecimento, direito a ser incluído, direito a participar, direito de sermos incondicionalmente aceites, independentemente das nossas opções.

Ao meu entender, confrontado com a realidade das sociedades em que vivemos, voltamos às épocas das utopias ao confundirmos o “progresso“ cientifico e tecnológico com a emancipação da mente humana das amarras do mundo conservador. Isso torna-se evidente quando somos surpreendidos, constantemente, com historias do tipo “pena de morte para um grupo social por serem diferentes do que é considerado “convensional” ou muito mais evidente ainda, quando se trata da iniciativa das pessoas que foram vitimas desta lógica de intolerância e exclusão, caso especifico do povo africano.

Este é o caso das manifestações para limitar direitos das minorias nos países do terceiro mundo. Um exemplo concreto são as reivindicações para institucionalização de leis opressoras contra certos grupos dentro dessas sociedades.

A noticia das manifestações a favor de pena de morte para os homossexuais na Uganda, surpreendeu-me, isso porque sempre fui uma pessoa que acreditava que as lutas dos povos de terceiro mundo deveriam ser focadas na defesa dos direitos humanos porque sob o seu amparo todos estariam sendo beneficiados. Deveríamos ser exemplos da tolerância por sermos povos que sentem na pele o sofrimento da exclusão, por sermos aqueles que sabem o quanto é doloroso ser marginalizado.

Absurdo é ver os povos excluídos a reproduzirem a ideologia da exclusão, da discriminação, da intolerância para com as minorias ou qualquer que seja grupo social. Onde está o direito humano que tanto exigimos?

Por que achamos que à uma pessoa tem que ser tirado o direito de fazer parte de uma sociedade por ter uma opção sexual diferente da nossa ? Por que não cobramos os nossos governos mais políticas publicas capazes de reduzir pobreza, fome, corrupção nas nossas sociedades, ao invés de leis que oprimem e hostilizam as minorias ?

Classificar isso de vergonhoso é muito modesto perante a monstruosidade do ato. É simplesmente antiquado, trata-se de pensamento de pessoas que não se enquadram no perfil das pessoas que se consideram parte de um mundo moderno e globalizado.

Continuaremos justificando as nossas atitudes antiquadas e conservadoras por questões do tipo “nunca foi assim” “na nossa cultura não existe isso” “não deve haver porque é estranho”?

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Protesto a favor de pena de morte para gays!!!

Alguns diriam que é a vergonha da civilização humana que vem átona. Outros menos pessimistas, acreditarão que é mais uma piada que o povo africano faz de si mesmo.
Em breve sairá um artigo sobre este assunto.
Abraços
A VOZ

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A volta


Estive acompanhando o evoluir da situação política na Guiné durante o tempo que ausentei-me do blog. Às vezes, realmente pode parecer que fico sem conteúdo por isso que não tenho postado há alguns dias. Em partes, isso pode ser verdade, pois, mais vale não escrever  que repetir o que os outros escrevem. Porém não se pode parar de trabalhar! Os tempos que eu fico sem escrever, dedico-me a fazer pesquisas, procuro estar a par das discussões em outros sítios.
Em todos os lugares que eu passo prece que a discussão desenrola-se em torno de alguns assuntos que as pessoas julgam ser preocupantes para  atual situação política da Guiné-Bissau. É naturalmente compreensível quando, quase todo mundo, concentra reflexões num determinado assunto. Ainda mais,  quando trata-se da Guiné-Bissau, o ponto das atenções é sempre a tradicional dicotomia estabilidade/instabilidade.
Há quem julga ter estabilidade no país e que, vive-se os “bons momentos” no país (a coisa que todos nós esperávamos que haja e que seja duradoura), mas uma imensa maioria (sobretudo os diasporaguineenses) põem pouca fe numa estabilidade imediata proclamada no país.
Enfim, a nossa posição sempre foi clara com relação a isso, ou seja, poderemos ter a estabilidade no nosso país, mas para isso, nós temos que nos dedicar ao trabalho sério para reestruturar a nossa sociedade com base nos ideais de justiça e da garantia dos direitos humanos e humanitários. Só assim estaremos realmente dispostos a ter tão sonhada estabilidade.
A VOZ