sábado, 28 de abril de 2012

A Guerra entre a Lusofonia e a Francofonia




Entre a condenação e a negociação do golpe-de Estado, está uma guerra geopolítica cujo o palco é a Guiné-Bissau. Os historiadores afirmam que desde o inicio dos tempos que a grande ambição da humanidade é descobrir o mundo e nele, demarcar como sua pertença: espaços geográficos conquistados. Nos tempos mais remotos as cores serviram de instrumento da identificação, o sujeito das cavernas via em cada pigmento um significado e  uma simbologia de diálogo e afinidades entre ele e o outro. As cores representavam instrumento de identidade entre povos e, por outro lado, constituíam marcas de tensões sociais entre diferentes grupos. As tribos serviam-se das cores que mascaravam os rostos para se reconhecerem num campo de batalha. Desde muito cedo, as simboligias  da identidade baseadas em cores que em rituais próprios fazem demarcação das fronteiras entre povos e espaços territoriais. No entanto, a invenção das línguas  marcaram o surgimento de um istrumento identitário mais sufisticado na historia da humanidade, a partir do qual se expressa a mais intima ligação entre sujeito e o outro dentro do espaço geográfico  que ocupa. Estes instrumentos da demarcação das identidades e fronteiras culturais persistem ainda hoje, nos dias que correm, as estrategias do projecto geopolítico moderno, não são nada mais que as  estratégias ancestrais da demarcação de limites de espaços geopolitico baseados nas simbologias mais sufisticados, onde as cores de outrora continuam estampadas nas bandeiras nacionais, uniformes de guerra,  as mascaras deram lugar aos logótipos institucionais.  É o caso de afirmar que, atrás de cada projecto geopolitico, existem muitas outras mascaras ancestrais  pintadas em tons de terror e medo, camufladas de  " boas intenções políticas " que distroem em terra  lugares e pessoas inocentes.
O último golpe-de-Estado na Guiné-Bissau, reavivou o conflito geopolitico  que  há muito existiu entre a  fancofonia e a lusofonia em África. A Guiné-Bissau, em várias ocasiões, foi o  palco da expressão de interesses geoestratégico entre o mais antigo jogo diplomático de Portugal e França em África, a  CPLP e CEDEAO são projectos geopoliticos modernos que representam este interesse.  

A integração da Guine-Bissau na comunidade dos Estados da África ocidental - onde a maioria dos países são da expressão francesa-  e a sua aderência à moeda francófona, nunca foi visto com bons olhos pelo Portugal e demais países do CPLP. Este facto, deu a origem à desavenças entre o regime "ninista"  e o Portugal. Durante o seu regime, Nino mostrou claramente a sua afinidade com a França e países francófonos onde tinha os  mais leais dos seus aliados politico  e  o seu  distanciamento de Portugal ficou evidente ao longo do seu mandato,  o que posteriormente veio lhe custar o poder e a credibilidade a nível internacional através da forte campanha desencadeada pelo Portugal contra seu regime.
 O conflito diplomático entre Portugal e o regime "ninista" viera assumir  contornos mais nítidas em conflito armado do ano  1998 na Guiné- Bissau, onde o  Portugal, foi um dos países que visivelmente apoiaram os golpistas da "junta militar", dando lhes  todo apoio diplomático  e posteriormente legitimou o golpe-de-Estado  que consequentemente levou a queda do regime do Nino Vieira.  Findo o conflito de 11 meses que custou vida de muitos inocentes, o então líder golpistas da junta militar, Ansumane Mané,  foi recebido em Portugal com a mais alta cerimonia de  honrarias do Estado com tapete vermelho, honras reservadas às personalidade de distinção pelo Estado português. França por sua vez, mandou militares para combaterem em Bissau  a favor do Nino, somando-se  aos militares de Senegal e da Guinee- Conakry, ambos colonizados pela frança.

A guerra diplomático entre o mundo lusofono e francófono estava no seu auge, não havia margens de dúvida sobre o jogo de interesses geopolitico expresso na sua forma mais clara num país dividido entre espaço territorial e a cultura linguística a ele imposta. 
Ao conseguir vencer nominalmente a guerra, à medida que conseguiu fazer triunfar os golpestas e exilado o Nino Vieira, no entanto, Portugal não conseguiu travar o processo natural da integração da Guiné-Bissau ao mundo  francófono. Sendo um país rodeado geograficamente pelos países da expressão francesa, pode se considerar que é um pais territorialmente francófono e, só um pouco, pela influencia da lingua, culturalmente lusofono e é inquestionável a influência do mundo francófono  sobre a Guiné-Bissau. 
Trata-se  do embate político antigo no qual o Portugal, foi sempre vencido e o golpe de 12 de Abril, veio confirmar esta derrota mais uma vez. Surge Angola como  um emergente africano que, pelo peso de petrodolares, entrou na corrida geopolítica africana, mas sem experiência e bases diplomáticas solidas para tal.
A presença angolana em África ocidental, aos olhos d CEDEAO, constitui uma ameaça geopolítica na região da pertença francófona, nem a CEDEAO, nem a França  dão boas vindas a qualquer manobra geoestratégica de algum Estado que não seja fancófono. Acresce se  a isso  as divirgencias políticas existente entre os líderes africanos, especificamente entre Alassana Ouattara e Jose Eduardo dos Santos, este último que foi grande aliado do Laurent Gbagbo. Considerando os factos e a lógica da diplomacia baseada nas  afinidades politicas entre um ou outro lider, não constitui nenhuma ingenuidade admitir a possibilidade de  alguma ligação entre CEDEAO e o golpe-de-Estado na Guiné-Bissau.  A presença do MISSANG não é mal visto  só pelos militares guineenses, a CEDEAO e os países que a integram viram neste acordo  um passo geoestratégica que vai contra seus interesses geopolitico. 
Foi  evidente o descompasso entre CPLP fortemente influenciado pelo Portugal e Angola do José Eduardo dos Santos  e a CEDEAO nas maos do Alassana Ouattara na resulução  do impasse político que assolou o nosso país; enquanto os primeiros se posicionam contra golpe através d ameaças de  sanções e pronta a mobilizar uma "força estabilizadora", descartando qualquer possibilidade de negociar com os golpistas, assistimos horas depois, a chegada de uma delegação da CEDEAO  pronta a negociar crise com os golpistas em sucessivas reuniões. A CPLP, UA, ONU, UE foram vozes mais radicais ouvidas mas sem uma acção concreta. A CEDEAO, por sua vez, provou mais uma vez, a sua força e credibilidade na região, vencendo claramente a batalha geopolítica existente, em um comunicado de 10 linhas conseguiu aquilo que outras instituições em conjunto não conseguiram. Há argumentos de que os militares foram cedendo por causa das pressões, sem ignorar esta possibilidade, porém, há que admitir uma guerra existente no decorrer deste episódio e o mundo conheceu o vencedor desta guerra, que não é nem os militares guineenses, muito menos o governo da Guiné- Bissau.
 O golpe-de-Estado foi resultado geoestratégica da diplomacia das instituições multinacionais, servindo assim os seus interesses e, mais uma vez, vimos adiado em detrimentos dos interesses alheios,  o futuro do nosso povo e a estabilidade política que tanto desejamos. Não restam dúvidas, mais uma vez, estamos assistir a legitimação de mais um golpe-de-Estado, assim como em 1998, não haverá reposição de ordém nenhuma, será criada nova ordém, o Carlos Gomes Junior colheu o fruto da ingenuidade politica, arrogancia e prepotencia com que tem governado a Guiné-Bissau, foi exilado forçosamente como o Nino foi em 1998 sem a possibilidade de voltar ao país muito cedo e se ele for inteligente, vai aprender com o que aconteceu ao Nino e não voltar nunca mais ao seu país. Quanto aos militares, continuam sendo mão-de- ferro e instrumento da concretização de interesses qua não são da Guiné-Bissau. Aos políticos, restou a luta pela sobrivivencia, abriu-se mais uma oportunidade para ocupar os cargos e "mamar", mesmo que seja temporáriamente, antes que chegue novo ciclo da instabilidade.
Quanto a mim, bem, eu continuo aqui como a voz de sempre.. 

Um comentário:

investigaçãobolama disse...

Procuro informações sobre o naufrágio do navio luso-guineense Bolama ocorrido a 4 de Dezembro de 1991. Um dos proprietários era Carlos Gomes Júnior (Cadogo). Investigação jornalistica. Sigilo absoluto. Ver blog: naviobolama.blogspot.pt