segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A educação na nossa sociedade

De acordo com os últimos acontecimentos a sociedade guineense encontra-se rigorosamente diante de uma situação que exige um trabalho árduo e consciente. As crises cíclicas no âmbito político-militar ocorridas desde o período pós independência obrigam-na a escolher entre poucas alternativas igualmente difíceis e de elevado custo social. O debate sobre os fatores que conduziram o país a esta situação provoca, como é natural, muita controvérsia, mas todos concordam em um ponto: o fator determinante da situação em que se encontra foi fruto da fragilidade das instituições políticas e o modelo de governos que vem sendo implantado desde as primeiras décadas da independência , em razão das sucessões no poder e forma como este é operacionalizado.
Como a possibilidade de progresso sócia econômica de qualquer país depende do dinamismo do modelo político e social nele regente, a instabilidade deste acarretou a anulação dos mecanismos que possibilitariam o avanço na construção do Estado capaz de promover o desenvolvimento sócio econômico do país. Não resta duvidas de que a guerra de todos contra todos, hoje aberta e declarada em todo o país e que ameaça desembocar em um longo período de caos e barbárie ou na inevitabilidade de uma situação muito mais alarmante do que já se vive é fruto daquilo que há muito vem sendo sustentado no cenário político da Guiné-Bissau.
Enumerar os problemas que assolam a sociedade guineense, este espaço seria insuficiente para tantos que temos que reportar. Por isso, acho desnecessário me dedicar a isso aqui, até porque, já se falou tanto disso em outros lugares.
O que se pode destacar é uma realidade social efêmera num país vulnerável em todos os sentidos com as instituições sociais e políticas fragilizadas por um processo longo da governancia irresponsável, criou-se uma conjuntura social em que o destino do país passou a servir interesses de um grupinho de pessoas.
Não há dúvida, entretanto, de que a construção nacional constitui uma via de dificuldades e penas, porque, para retomar o processo são indispensáveis decisões que afetam interesses muito poderosos que configuram como ameaça aos interesses coletivos da sociedade no seu todo.
Pressupõe-se que a primeira dessas decisões diz respeito afirmação do estado de direito no seu sentido pratico que proporcione a justiça social igualitária e faça valer os ideais democráticos que viabilizem a construção de um Estado, cuja a tarefa prioritária seja planejamento de um sistema de ensino publico gratuito, laico e obrigatório a todos os cidadãos. Sem tal, será impossível mudança social, considerando que esta só se dá quando se tem cidadão preparado indispensável para entendimento das necessidades do país.
Consciente da realidade da sociedade guineense destaco a educação como o foco prioritário e indispensável para fazer face aos desafios que temos que vencer, tanto ao nível nacional, quanto internacional. Para a consolidação de uma sociedade mais justa e igualitária - a sociedade democrática – propõe-se não só a transformação dos conceitos básicos educacionais, mas a reestruturação moral e social da sociedade. Ou seja, se a sociedade em que vivemos nos coloca desafios de vários níveis é preciso que o Estado transforme o povo em cidadãos, cidadãos conscientes, para integrar-se à sociedade e que tenha instrumentos de reflexão sobre a mesma. Deve-se acreditar, numa sociedade, como a nossa, só com a educação pode-se alcançar transformação continua e reconstrução social, o que significa que, cuide a escola de formar novos atores sociais competentes e para utilizar essas competências como meios para a participação em todos os interesses da sociedade.
Dentre vários problemas da sociedade guineense, nenhum deles supera em importância e gravidade ao do ensino. Pode-se dizer que o sistema do ensino na guiné é dos mais precários que existe no mundo, precisa-se de uma reforma profunda na organização escolar de modo a dissociá-la do sistema tradicional do ensino que sempre existiu.
Entendo que a situação da Guiné-Bissau não se resume a simples questão da educação, mas este aqui é entendido como fator mestre do atraso sócio estrutural existente na nossa sociedade. Ao escolhermos o sistema político vigente no nosso país, é mestre entender que a sua funcionalidade exige o mínimo da cultura política que faz jus a suas exigências operacionais.
Nas bases da crise de valores que hoje presenciamos na nossa sociedade, está, sem dúvida, o sentido atribuído à prática da cidadania. Este esvaziamento relaciona-se, proporcionalmente, à redução do que é do interesse socialmente valorizado para o sentido único de poder atender interesses particulares egoístas. Isto se explica tanto pela ausência da actividade política crítica da sociedade civil, quanto pela ausência da prática de cidadania.
Neste sentido a nossa preocupação com a formação do cidadão se justifica mais uma vez, com a elevada importância para a esfera das decisões sobre políticas públicas do nosso país.
A voz

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