segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Intelectuais da Net

O momento que o nosso país atravessa é certamente muito especial e exige reflexão de todos nós, independentemente, das nossas convicções partidárias ou qualquer coisa do gênero. Isto é tão certo quanto o cuidado que devemos ter ao fazermos certas reflexões, sobretudo acerca da política guineense.
Não deixa de ser precipitado e tendencioso fazer crítica às viagens do recém-eleito presidente da Guiné. Se não vejamos: a atual conjuntura política internacional exige cada vez mais a integração dos Estados para resolução dos problemas que o quotidiano lhes coloca. Neste quadro, quanto mais um Estado/estadista consegue cultivar relações multilaterais sólidas com outros Estados, mais estável e competente estará para responder aos desafios que a sua função exige enquanto representação suprema e soberana do seu povo. Ou seja, nenhum Estado/estadista é tão forte e competente ao ponto de dispensar as parcerias internacionais.
Parto dos princípios fundamentais que regem a política internacional e que são necessariamente essenciais para o desenvolvimento de qualquer país na face da terra.
Com vista a este entendimento, entendemos estas viagens aos países amigos dentro do quadro de estabelecer relações multilaterais com os países da região da costa africana e os países membros do CPLP, como qualquer outro estadista interessado em consolidar a integração regional dos países pobres e subdesenvolvidos. Entende-se este procedimento como uma estratégia política porque mostra sinais de maturidade e consciência daquilo que hoje constitui a preocupação tanto da política internacional, quanto da política doméstica.
Posto isto, não venho por este entendimento a justificar as viagens tradicionais dos nossos governantes, menos ainda, incentivar comodismo reacionário por parte de “analistas políticos”, mas sim, enquadro o meu raciocínio no âmbito da atual conjuntura política do nosso país: Um país, que há bem pouco tempo, teve o seu presidente esquartejado e o chefe de Estado Maior, General das Forças Armadas, assassinado à bomba. Um país, taxado de ser dirigido por um narco-estado e frequentemente ameaçado de ser isolado da comunidade internacional. Muito mais que dever, é obrigação dos seus dirigentes reconstruir sua imagem perante a comunidade internacional. Isto se dá através de consolidação de parcerias e manifestação de vontade de devolver ao Estado, a credibilidade tanto interno quanto internacional.
Angola, Cabo Verde, Gâmbia, Senegal são países que se mostraram amigos da Guiné-Bissau durante todo o tempo que o nosso país passou por momentos difíceis e de forma direta ou indireta, serviram de porta vozes perante a comunidade internacional defendendo que esta não devia abandonar a Guiné-Bissau. Em alguns casos, estes países serviram de intermediários dos conflitos internos do nosso país, manifestando toda sua preocupação com os nossos problemas.
À luz deste entendimento, o gesto do presidente eleito tem um significado político que não se limita ao simples fato de se deslocar pessoalmente para convidar seus homólogos para cerimônia de posse, muito além disso, a presença destes países neste evento servirá de provas de que a Guiné-Bissau está partindo para uma nova fase da sua política e que os guineenses estão preparados para isto.
Ao interpretar estas viagens fora deste contexto, estaremos caindo num reducionismo analítico preso aos nossos compromissos ideológicos e convicções partidárias que não nos deixam ver nada além do nosso umbigo.
É verificável, que muito se escreveu sobre a Guiné-Bissau em jornais, artigos na Internet, revistas que condensados demonstram, na sua maioria, enviesados e presos ao vício de criticar tudo e pôr defeito em todos. Poucos se dão trabalho de trazer reflexões construtivas, capazes de subsidiar a conscientização do nosso povo e consequentemente, formação da opinião política cidadã. Muito contrário disso, o que se verifica é oportunismo exacerbado de pessoas que se dão luxo de se apresentarem como intelectuais.
Alguns até ousados de mais, vestem a camisa de cientistas sociais, sendo que na realidade, não passam de sujeitos sujeitados aos compromissos partidários e interesses obscuros sem fundamento nenhum, desprovidos da ética intelectual e que suas idéias estão sistematicamente baseadas no senso comum.
As maiores vítimas da continuidade desta situação são os analfabetos sistêmicos que compõem quase 90% da população de nosso país, grande parte deles leigos em conhecer as questões política nacional e internacional (o grupo da qual eu faço parte também, mas pelo menos eu sou humilde em reconhecer esta condição). Então, não seria interessante uma reflexão em que estivesse embutido o nivelamento educacional de toda população? Como apoio, também sistêmico, a tentativa do presidente eleito em trazer olhares e parcerias ao nosso país?
A voz!

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei da reflexão.

Anônimo disse...

Qualquer presidente, de qualquer país ou empresa, não é um sujeito que tem que bater ponto, assinar frequência, ou ser visto sempre no mesmo lugar, na mesma mesa, nos mesmos horários. Mas deve ser uma pessoa inteiramente comprometida com as causas do seu país e do seu povo, e desenvolver todas as ações necessárias para que seu país estabeleça relações contributivas e cooperativas com todos os outros povos e países. Viajar pode ser uma destas ações. E acima de tudo promover a paz, a promoção da qualidade de vida para todos, evitar conflitos destrutivos, ampliar a participação de todos e sonhar e fazer todos sonharem com um país melhor do que o que hoje se tem.