sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Triângulo amoroso!


Estamos presenciando um momento muito bonito no cenário politico do nosso país, ou melhor, aparentemente bonito.
Eu e vários outros guineenses( aqueles que gostam deste país) esperamos que este clima de namoro triangular e instituicional (romance de Malam- Cadogo-Kumba) seja o mais sincero possível para o bem do nosso povo. Que não seja mais uma daquelas manobras demagogas que tradicionalmente caracteriza os os nossos políticos.
Quando se diz que há um clima de reconciliação entre os guineenses, fica dúvida se é só um discurso para mascarar aquilo que na verdade constitui a nossa realidade ou, realmente estamos prontos para mudar o rumo deste país.
Como bem sabemos (digo eu e aqueles que bem conhecem a realidade da Guiné) os atores políticos guineenses são bem "raça camaleão".

sábado, 15 de agosto de 2009

Não esperemos a paz onde nunca houve Justiça.


A onda de violência que existe na Guiné-Bissau é incentivada pela disfunção do poder judiciário neste país. Da independência até data presente muitos perderam seus familiares e conhecidos, muitas vezes, em situações desumanas.
A falta de um poder judiciário independente no nosso país legitimou o direito de matar para alguns de modo que algumas pessoas matam e continuam impunes. Como as conseqüências disso, temos uma sociedade cheia de ódio e vingança. Quando é assassinado alguém, toda sociedade se comove, a comunidade internacional se mobiliza fazendo pressões, atribuí-se vários motivos ao ato (pelo menos, durante uma semana), menos atenção se dá aos antecedentes históricos das relações sociais estabelecidas dentro da nossa sociedade. Dias depois, ninguém mais se lembra do ocorrido, os criminosos continuam impunes e fazendo suas atividades normalmente.
Enquanto a impunidade continuar vigorar na nossa sociedade, seria demasiado cínico pensar quanto tempo falta para o conflito regressar, talvez nem nunca regresse (é o que todos nós desejamos), mas qualquer esforço para acabar com a violência seria em vão. Ou seja, não esperemos a paz onde nunca houve justiça.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Esta é a minha carta para ti!

Senhor recém eleito presidente deste pobre país, lhe endereço esta carta sobre a importância de voltar os olhos para as questões que constituem a preocupação do nosso povo.
Esta é uma carta de reflexão ao momento que a sociedade guineense vive e de apoio ao esforço enorme que se exigirá do desempenho do cargo da presidência deste país.
Senhor presidente, o desejo e sonho de todos guineenses, de todas as etnias, religiões e raça, por menos que seja manifestado, é ter perspectiva de uma vida melhor, de estar inserido numa sociedade, onde possam sobreviver com dignidade e esperança, e se possível manifestar a sua cidadania digna e responsável.
Caro presidente da república, a sua eleição ao maior cargo político desta sociedade é fruto da confiança que o povo tem na sua pessoa. Durante a campanha eleitoral muito se falou sobre a sua pessoa: seu currículo como estadista, não deixa dúvidas sobre a sua maturidade política, sua historia de vida que nos é contada é fabulosa, a sua biografia é aquele que qualquer cidadão deste país gostaria de ter.
Mas permita-me lhe dizer que o senhor está num processo que tem inicio, meio e fim. A partir deste momento, você é presidente de todos nós. O seu cargo e as respectivas responsabilidades são transitórios.
Daqui a poucos anos com certeza será um ex-presidente, daqui mais alguns anos um ser que passou como todos pela vida.
Portanto, a responsabilidade e o destino do povo da Guiné-Bissau estão em suas mãos. O senhor sabe quais as reformas devem ser feitas.
O senhor sabe também que o estado de caos, um mergulho em uma crise profunda de toda a nação guineense (que tem sintomas claros de um quadro de guerra civil) está na máquina estatal, que vive para si, é incompetente e gerencialmente corrupta, aparelho propício para alimentar interesses políticos de poucos e consumir toda a nossa esperança.
Senhor presidente, faço desta carta um ato para responsabilizar o senhor pelo futuro do nosso povo. O que todos nós esperamos do senhor é a consciência da condição do nosso povo e da sociedade em geral.
Tenho a consciência da complexidade de governar um país em condições que a Guiné-Bissau se encontra, por isso mesmo, o que se espera do senhor é uma postura de diálogo com diversos setores da nossa sociedade, uma postura de defensor do ensino público para todos, eleger a educação, saúde e a segurança pública como prioridades do seu mandato.
Eu e todos os guineenses esperamos que o senhor seja capaz de devolver a segurança ao nosso povo, restaurar a relação de confiança sociedade civil - Estado, resgatar a boa imagem do país perante comunidade internacional. Estas são coisas que o povo espera do senhor.
Tomo a liberdade de falar em nome de todos os guineenses para lhe desejar boa sorte e um bom desempenho do seu cargo, estaremos disponíveis para qualquer colaboração como cidadãos deste país.
Meus melhores cumprimentos.
A VOZ

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A educação na nossa sociedade

De acordo com os últimos acontecimentos a sociedade guineense encontra-se rigorosamente diante de uma situação que exige um trabalho árduo e consciente. As crises cíclicas no âmbito político-militar ocorridas desde o período pós independência obrigam-na a escolher entre poucas alternativas igualmente difíceis e de elevado custo social. O debate sobre os fatores que conduziram o país a esta situação provoca, como é natural, muita controvérsia, mas todos concordam em um ponto: o fator determinante da situação em que se encontra foi fruto da fragilidade das instituições políticas e o modelo de governos que vem sendo implantado desde as primeiras décadas da independência , em razão das sucessões no poder e forma como este é operacionalizado.
Como a possibilidade de progresso sócia econômica de qualquer país depende do dinamismo do modelo político e social nele regente, a instabilidade deste acarretou a anulação dos mecanismos que possibilitariam o avanço na construção do Estado capaz de promover o desenvolvimento sócio econômico do país. Não resta duvidas de que a guerra de todos contra todos, hoje aberta e declarada em todo o país e que ameaça desembocar em um longo período de caos e barbárie ou na inevitabilidade de uma situação muito mais alarmante do que já se vive é fruto daquilo que há muito vem sendo sustentado no cenário político da Guiné-Bissau.
Enumerar os problemas que assolam a sociedade guineense, este espaço seria insuficiente para tantos que temos que reportar. Por isso, acho desnecessário me dedicar a isso aqui, até porque, já se falou tanto disso em outros lugares.
O que se pode destacar é uma realidade social efêmera num país vulnerável em todos os sentidos com as instituições sociais e políticas fragilizadas por um processo longo da governancia irresponsável, criou-se uma conjuntura social em que o destino do país passou a servir interesses de um grupinho de pessoas.
Não há dúvida, entretanto, de que a construção nacional constitui uma via de dificuldades e penas, porque, para retomar o processo são indispensáveis decisões que afetam interesses muito poderosos que configuram como ameaça aos interesses coletivos da sociedade no seu todo.
Pressupõe-se que a primeira dessas decisões diz respeito afirmação do estado de direito no seu sentido pratico que proporcione a justiça social igualitária e faça valer os ideais democráticos que viabilizem a construção de um Estado, cuja a tarefa prioritária seja planejamento de um sistema de ensino publico gratuito, laico e obrigatório a todos os cidadãos. Sem tal, será impossível mudança social, considerando que esta só se dá quando se tem cidadão preparado indispensável para entendimento das necessidades do país.
Consciente da realidade da sociedade guineense destaco a educação como o foco prioritário e indispensável para fazer face aos desafios que temos que vencer, tanto ao nível nacional, quanto internacional. Para a consolidação de uma sociedade mais justa e igualitária - a sociedade democrática – propõe-se não só a transformação dos conceitos básicos educacionais, mas a reestruturação moral e social da sociedade. Ou seja, se a sociedade em que vivemos nos coloca desafios de vários níveis é preciso que o Estado transforme o povo em cidadãos, cidadãos conscientes, para integrar-se à sociedade e que tenha instrumentos de reflexão sobre a mesma. Deve-se acreditar, numa sociedade, como a nossa, só com a educação pode-se alcançar transformação continua e reconstrução social, o que significa que, cuide a escola de formar novos atores sociais competentes e para utilizar essas competências como meios para a participação em todos os interesses da sociedade.
Dentre vários problemas da sociedade guineense, nenhum deles supera em importância e gravidade ao do ensino. Pode-se dizer que o sistema do ensino na guiné é dos mais precários que existe no mundo, precisa-se de uma reforma profunda na organização escolar de modo a dissociá-la do sistema tradicional do ensino que sempre existiu.
Entendo que a situação da Guiné-Bissau não se resume a simples questão da educação, mas este aqui é entendido como fator mestre do atraso sócio estrutural existente na nossa sociedade. Ao escolhermos o sistema político vigente no nosso país, é mestre entender que a sua funcionalidade exige o mínimo da cultura política que faz jus a suas exigências operacionais.
Nas bases da crise de valores que hoje presenciamos na nossa sociedade, está, sem dúvida, o sentido atribuído à prática da cidadania. Este esvaziamento relaciona-se, proporcionalmente, à redução do que é do interesse socialmente valorizado para o sentido único de poder atender interesses particulares egoístas. Isto se explica tanto pela ausência da actividade política crítica da sociedade civil, quanto pela ausência da prática de cidadania.
Neste sentido a nossa preocupação com a formação do cidadão se justifica mais uma vez, com a elevada importância para a esfera das decisões sobre políticas públicas do nosso país.
A voz

Ganância e ignorância são inimigas do ser humano

A primeira condição para aprender é reconhecer-se ignorante. Quem se julga sábio de tudo muitas vezes, não passa de um ignorante com complexo da sabedoria.

Intelectuais da Net

O momento que o nosso país atravessa é certamente muito especial e exige reflexão de todos nós, independentemente, das nossas convicções partidárias ou qualquer coisa do gênero. Isto é tão certo quanto o cuidado que devemos ter ao fazermos certas reflexões, sobretudo acerca da política guineense.
Não deixa de ser precipitado e tendencioso fazer crítica às viagens do recém-eleito presidente da Guiné. Se não vejamos: a atual conjuntura política internacional exige cada vez mais a integração dos Estados para resolução dos problemas que o quotidiano lhes coloca. Neste quadro, quanto mais um Estado/estadista consegue cultivar relações multilaterais sólidas com outros Estados, mais estável e competente estará para responder aos desafios que a sua função exige enquanto representação suprema e soberana do seu povo. Ou seja, nenhum Estado/estadista é tão forte e competente ao ponto de dispensar as parcerias internacionais.
Parto dos princípios fundamentais que regem a política internacional e que são necessariamente essenciais para o desenvolvimento de qualquer país na face da terra.
Com vista a este entendimento, entendemos estas viagens aos países amigos dentro do quadro de estabelecer relações multilaterais com os países da região da costa africana e os países membros do CPLP, como qualquer outro estadista interessado em consolidar a integração regional dos países pobres e subdesenvolvidos. Entende-se este procedimento como uma estratégia política porque mostra sinais de maturidade e consciência daquilo que hoje constitui a preocupação tanto da política internacional, quanto da política doméstica.
Posto isto, não venho por este entendimento a justificar as viagens tradicionais dos nossos governantes, menos ainda, incentivar comodismo reacionário por parte de “analistas políticos”, mas sim, enquadro o meu raciocínio no âmbito da atual conjuntura política do nosso país: Um país, que há bem pouco tempo, teve o seu presidente esquartejado e o chefe de Estado Maior, General das Forças Armadas, assassinado à bomba. Um país, taxado de ser dirigido por um narco-estado e frequentemente ameaçado de ser isolado da comunidade internacional. Muito mais que dever, é obrigação dos seus dirigentes reconstruir sua imagem perante a comunidade internacional. Isto se dá através de consolidação de parcerias e manifestação de vontade de devolver ao Estado, a credibilidade tanto interno quanto internacional.
Angola, Cabo Verde, Gâmbia, Senegal são países que se mostraram amigos da Guiné-Bissau durante todo o tempo que o nosso país passou por momentos difíceis e de forma direta ou indireta, serviram de porta vozes perante a comunidade internacional defendendo que esta não devia abandonar a Guiné-Bissau. Em alguns casos, estes países serviram de intermediários dos conflitos internos do nosso país, manifestando toda sua preocupação com os nossos problemas.
À luz deste entendimento, o gesto do presidente eleito tem um significado político que não se limita ao simples fato de se deslocar pessoalmente para convidar seus homólogos para cerimônia de posse, muito além disso, a presença destes países neste evento servirá de provas de que a Guiné-Bissau está partindo para uma nova fase da sua política e que os guineenses estão preparados para isto.
Ao interpretar estas viagens fora deste contexto, estaremos caindo num reducionismo analítico preso aos nossos compromissos ideológicos e convicções partidárias que não nos deixam ver nada além do nosso umbigo.
É verificável, que muito se escreveu sobre a Guiné-Bissau em jornais, artigos na Internet, revistas que condensados demonstram, na sua maioria, enviesados e presos ao vício de criticar tudo e pôr defeito em todos. Poucos se dão trabalho de trazer reflexões construtivas, capazes de subsidiar a conscientização do nosso povo e consequentemente, formação da opinião política cidadã. Muito contrário disso, o que se verifica é oportunismo exacerbado de pessoas que se dão luxo de se apresentarem como intelectuais.
Alguns até ousados de mais, vestem a camisa de cientistas sociais, sendo que na realidade, não passam de sujeitos sujeitados aos compromissos partidários e interesses obscuros sem fundamento nenhum, desprovidos da ética intelectual e que suas idéias estão sistematicamente baseadas no senso comum.
As maiores vítimas da continuidade desta situação são os analfabetos sistêmicos que compõem quase 90% da população de nosso país, grande parte deles leigos em conhecer as questões política nacional e internacional (o grupo da qual eu faço parte também, mas pelo menos eu sou humilde em reconhecer esta condição). Então, não seria interessante uma reflexão em que estivesse embutido o nivelamento educacional de toda população? Como apoio, também sistêmico, a tentativa do presidente eleito em trazer olhares e parcerias ao nosso país?
A voz!